Problema Solucionado
O município de Santana de Parnaíba, como indica o Censo Cidades de 2010 (IBGE) passou de 74.828 habitantes em 2000, para 108.813 em 2010, o que representou um crescimento de 80%.
Segundo o IDHM (PNUD,2013), ocupa a 16ª colocação entre todos os municípios do país (0,814), sendo considerado "muito alto" todos os índices acima de 0,8. No entanto, este índice retrata parcialmente a realidade social do município.
O Índice Paulista de Vulnerabilidade Social-IPVS (Seade, 2010) apresenta que 26,0% do total de sua população encontram-se em baixíssima vulnerabilidade, com rendimento nominal médio dos domicílios em R$ 13.922,00. Por outro lado não representa os 32,4% do total de sua população em situação de alta vulnerabilidade, que apresenta rendimento médio dos domicílios em R$ 1.495,00, sendo que em 27,8% deles a renda não ultrapassava meio salário mínimo per capita.
Caracterizado por grandes desigualdades sociais e grande aumento populacional em um curto espaço de tempo, se abrem espaços para iniciativas criativas que busquem auxiliar no desenvolvimento social do município, como intervenções complementares a educação pública formal, a qualidade de vida e a igualdade de gênero.
Descrição
A experiência é uma construção coletiva de toda a equipe de colaboradores - incluindo os educandos – e que vem se aperfeiçoando desde 2005.
Consiste em uma visão diferente das regras clássicas do futebol, onde a conduta do participante dentro de campo vale mais do que o número de gols marcados, além da figura do árbitro, descrito neste processo como mediador, que não emite parecer técnico favorecendo um ou outro time, pelo contrário, ele deve buscar aproximar e possibilitar o diálogo entre os competidores, fazendo com que os envolvidos participem ativamente na busca de soluções que atendam a todo o grupo. Possibilitando as meninas maior participação e destaque, não estando mais relegadas ao papel de meras expectadoras ou torcedoras, pois todas as turmas são mistas.
As partidas são divididas não em dois, mas em três tempos de jogo onde se instaura um processo de debate, aprendizagem e negociação, além da prática do esporte.
No primeiro tempo, os dois times buscam chegar a um acordo sobre as regras básicas a serem seguidas, junto a figura do mediador. É um processo coletivo, construído segundo a percepção das condições físicas do espaço, as habilidades dos participantes e todos os outros elementos presentes dentro do jogo.
O segundo tempo é quando a bola rola para valer, seguindo as regras estabelecidas no período anterior.
O terceiro tempo, por fim, é reservado para a reflexão, e é então que os participantes trocam impressões a respeito da partida, avaliando os acordos iniciais, os cumprimentos das regras e contabilizam os pontos de cada time. Fica a cargo dos próprios educandos decidirem, em conjunto, os valores e lhes atribuir pontuação. reiterando que o que vale aqui é o comportamento no campo, as interações e o compromisso com as regras pactuadas.
A tecnologia social é aplicada pela Fundação EPROCAD no município de Santana de Parnaíba, e esta busca por meio do esporte (futebol) favorece o ensino de valores e atitudes que dificilmente são trabalhados em outros ambientes, proporcionando momentos de reflexão e construção coletiva do conhecimento e contribuindo para o desenvolvimento integral dos participantes.
A escolha do futebol deu-se por ser um fenômeno de grande popularidade nacional e por seu potencial de grande influência no comportamento, nas atitudes e nos valores adotados por uma pessoa, principalmente crianças e adolescentes.
Durante as atividades os beneficiários e o mediador determinam as adequações necessárias, levando em considerações eventuais limitações, que favoreçam a participação de todos.
Reiterando comentado acima, o mediador não é um árbitro e não emite nenhum parecer técnico, ele deve aproximar e restaurar o diálogo entre as partes, fazendo com que os envolvidos participem ativamente na busca de melhores soluções que se ajustem a seus interesses. Outra função do mediador é produzir tensões que favoreçam a troca de informações, buscando a preservação do relacionamento por meio de reformulação de questões e criando alternativas que propiciem o diálogo entre as partes. Desta forma, ocorre o desabrochar do motivo real que os fez chegar ao confronto, possibilitando que a decisão seja tomada pelas próprias partes que, assim, assumem a responsabilidade ao invés da decisão ser imposta pelo mediador.
Neste cenário, não necessariamente a equipe que faz o maior número de gols é a vencedora, pois a conduta dos participantes de uma maneira geral, vale mais do que a quantidade de gols. O objetivo principal vai muito além da vitória, contempla um processo de aprendizagem constante.
Para isso o jogo se desenvolve em três etapas:
Primeira etapa: Há uma roda de conversa entre os participantes na qual são abordadas as regras do jogo, nesse momento eles podem criar e adequá-las às necessidades dos espaços (quadra, estacionamento, rua e etc), as capacidades motoras e experiencias práticas dos participantes, ao tempo hábil de jogo, entre outras.
Segunda etapa: É o jogo de futebol propriamente dito. Não existe a presença de um árbitro, os próprios participantes possuem a responsabilidade de conduzir a partida e fazer valer os acordos pré-estabelecidos na primeira etapa. O mediador é responsável pela observação e anotações das ações que ocorram neste momento.
Terceira etapa: Os participantes voltam a se reunir para avaliar se as regras e acordos pré- estabelecidos foram cumpridos, somando a pontuação da conduta (Fair play) ao número de gols marcados, definindo a pontuação final de cada uma das equipes. Nesse momento o mediador é responsável pela mediação de eventuais conflitos que por ventura possam surgir nesse processo.
Conforme os educandos participantes vão adquirindo experiência e se destacando durante as atividades, eles passam a assumir o papel de mediador, visto que a metodologia aplicada facilita a formação de jovens protagonistas e capazes de serem difusores dos princípios e valores encontrados na metodologia em suas comunidades e vida cotidiana.
Recursos Necessários
A metodologia embasa-se por uma prática e construção conjunta do jogo, assim muito dos materiais a serem utilizados podem ser adaptados ou incluídos de acordo com as características do grupo:
Como materiais básicos para essa prática observamos a necessidade apenas de uma bola de futebol, visando não descaracterizar o jogo e manter a essência do jogo de futebol.
E uma planilha para anotações e registros do acontecido e observado dentro do jogo, que servirá como subsídios para as indagações e o desenvolvimento da mediação no terceiro tempo por parte do mediador.
Agregado a caracterização de seus praticantes, visando facilitar a compreensão e o desenvolvimento dos momentos praticos de atividades.
E um espaço de prática segura, podendo ser este adaptado ou não ao ambiente tradicional do desporto (quadra ou campo), favorecendo adaptar-se as característica do local de execução e estimulo a construção de regras que estabelecem diretrizes para desenvolvimento de um jogo pautado e caracterizado pelo grupo de praticantes.
Resultados Alcançados
A Fundação EPROCAD atua há 30 anos na região de Santana de Parnaíba/SP. Em nossas atividades, sempre são abordados temáticas como, violência doméstica, sexualidade, gênero, cultura de paz, entre outras, que estão muito presentes no cotidiano das comunidades onde atuamos. Através da aplicação desta metodologia a Fundação EPROCAD obteve o reconhecimento do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), desenvolve desde 2007 ações com o apoio da FIFA, através do Programa Football For Hope e beneficiou mais de 3.000 crianças e adolescentes de Santana de Parnaíba e região.
Outro desdobramento encontrado por meio da tecnologia, conota que por meio de avaliação de impacto realizada em parceria com Fundação Itaú Social, que educandos que desenvolvem as atividades da Fundação EPROCAD mostram que o programa de atividades da Fundação tem efeito positivo sobre a auto-estima dos participantes em 3%, o que pode refletir segundo Draco (2011), que analisa a relação entre ganhos de auto-estima e ganhos salariais, que em sua vida futura os educandos podem possuir um aumento de aproximadamente 1,5% no salário dos participantes do projeto.
Em abril de 2014 a Fundação EPROCAD fez parte do Premio Petrobras de Esporte Educacional, importante prêmio que busca fortalecer o Esporte Educacional no Brasil, onde participou com mais de 1000 instituições de todo o Brasil e conseguiu a 1ª colocação na categoria Terceiro Setor.
Através de uma avaliação por competência dos educandos durante as atividades, conseguimos conhecer melhor o perfil dos beneficiados e trabalhar as características individuais com maior ênfase. Assim visando uma análise que atenda os objetivos da Fundação EPROCAD, separamos as questões em blocos que atendam aspectos como participação e conduta, buscando mensurar o desenvolvimento das competências: pessoais (autonomia); cognitivas (resolução de problemas); relacionais (sociabilidade); produtivas (trabalho em equipe).
Através desses resultados conseguimos visualizar as evoluções durante o processo de ensino aprendizagem, além de dar subsídios aos educadores com relação as suas ações, colaborando como ferramenta de monitoramento da evolução comportamental do educando.
Existindo grande perspectiva de difusão da metodologia, por se utilizar de um esporte popular e praticado no país e não requerer grande infraestrutura, além disso, atualmente mais quatro organizações no Brasil atuam com uma metodologia similar, ambas membros da rede Streetfootballworld
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