Problema Solucionado
Comunidades de contextos socialmente complexos (como indígenas, ribeirinhos, rurais) possuem dificuldades bastante específicas no que diz respeito ao processo educacional de suas populações, seja pela localização geográfica, por questões culturais ou étnicas. As especificidades, na maioria das vezes, aprofundam problemas educacionais comuns: falta de material didático condizente com a realidade, evasão escolar, baixo desempenho de alunos, qualificação deficitária de professores são exemplos destes problemas. Tomemos como exemplo, Miranda município em que estamos localizados. Aqui temos comunidades rurais, indígenas e ribeirinhas. Números da educação demonstram o agravamento da qualidade da educação de uma comunidade para outra: 13,24% da população acima de 15 anos que nunca frequentou a escola (a média nacional é de 9,37%). A população analfabeta feminina (13,35%) é maior que a masculina (13,13%). Dessa totalidade, também, 17,16% vive em áreas rurais (que inclui indígenas) e 10,90% na área urbana. Cria-se, neste sentido, um abismo ainda maior em que as comunidades de contextos complexos ficam alijadas de processos que possibilitem seu desenvolvimento sustentável.
Descrição
Originalmente aplicada com educadores do Ensino Fundamental da Escola Mun. Indígena “Polo Coronel Nicolau Horta Barbosa”, Aldeia Cachoeirinha. Ao reaplicarmos a metodologia p/ a Educação Infantil, não apenas ampliamos o número de envolvidos (professores e alunos), como aperfeiçoamos práticas a fim de otimizar os resultados com base nos indicadores da ação pioneira. Neste sentido a reaplicação da tecnologia p/ a educação infantil se deu em 14 salas de aula de 11 escolas, alcançando a totalidade de alunos da educação infantil das escolas municipais indígenas de Miranda. A aplicação do trabalho segue o sistema que visa garantir, inicialmente, o envolvimento da comunidade. Primeiro passo:
1) Elaboração do projeto junto à comunidade. Esta etapa é muito importante p/ discussão dos pontos principais a serem abordados nas oficinas, garantindo que o projeto atenda as reais demandas dos professores indígenas.
2) Oficinas. Foram desenvolvidas oficinas de elaboração de material didático, importância da inserção e uso da língua Terena em ambiente escolar, interdisciplinaridade e interculturalidade, sequência didática e planejamento e politicas públicas. Nestas oficinas tivemos a adesão da totalidade dos professores, coordenadores, diretores e assistentes, graças a parceria institucional que formalizamos com a Secretaria Mun. de Educação e Cultura que tornou possível que a participação dos profissionais ocorresse durante as atividades letivas, dando um caráter mais oficial às atividades, integrando, de fato, as capacitações como uma ação institucional da educação infantil escolar indígena. No total foram três oficias com a participação de todos. Este número de oficinas foi reduzido p/ que houvesse espaço p/ o próximo passo.
3) Acompanhamento de professores em sala de aula. Observamos que os professores muitas vezes têm dificuldades em aplicar a metodologia proposta (ensino intercultural), assim como muitos têm dificuldades ou receio de expor suas dificuldades em sala de aula, desta forma optamos por aplicar mais atendimentos individualizados. São oportunidades em que os profissionais do Ipedi oferecem, de forma individual, acompanhamento das atividades dos professor em sala de aula, orientando o planejamento e a execução de atividades interculturais. O trabalho do IPEDI consiste basicamente em sermos interlocutores de conhecimentos indígenas e não indígenas, apostamos que a única metodologia infalível é a mudança e melhoria contínua, desta forma ocorreram muitas alterações no modo de trabalharmos desde o primeiro projeto até agora, sempre buscando ouvir os anseios da comunidade e buscar conhecimentos científicos e universais que possam suprir as necessidades da escola e comunidade indígena.
4) Desenvolvimento de 21 projetos culturais: o fortalecimento da prática de uma educação intercultural passou a inspirar os professores que aplicaram as técnicas aprendidas na realização de projetos que visam o resgate cultural junto a seus alunos. No total foram 21 projetos que tiveram orientação, monitoramento, reflexão e registro de atividades culturais envolvendo escola e comunidade, As iniciativas partiram e foram organizadas pelos professores. Depois de desenvolvidas as iniciativas foram discutidas e adaptadas (quando necessário), p/ compor o próximo passo da tecnologia, a construção do livro, como proposta de atividade em sala e como registro cultural do povo Terena.
5) Elaboração do livro Kalivôno Kálihúnoe Ike Vó’um - volumes 1 e 2. Que consiste na sistematização de todo o processo em um livro didático de dois volumes que serve de material de apoio p/ educação intercultural nas salas de toda a educação infantil indígena da Rede Mun. de Educação de Miranda.
A mesma metodologia foi aplicada em um contexto diverso do universo indígena. Desta vez, no projeto Barco de Letras, que oferece alfabetização a pescadores ribeirinhos da região do Pantanal. O trabalho se deu, inicialmente, com 11 alunos (hoje chegamos a 35).
1) Elaboração do projeto: realizamos o diagnóstico das necessidades p/ o público, em que verificamos as expectativas dos mesmos com a possibilidade de alfabetização. Ao mesmo tempo, identificamos as dificuldades que poderiam produzir a desistência dos alunos (o que, identificamos, foi um dos problemas enfrentados por outras iniciativas de alfabetização já realizadas com o mesmo público e que foram descontinuadas).
2) Qualificação da alfabetizadora: por se tratar de um universo diverso das experiências anteriores, a qualificação da alfabetizadora ocorreu paralelo ao desenvolvimento das atividades, fazendo adequações na forma de trabalho, baseada na experiência diária junto aos alunos.
3) Aplicação de conteúdo especifico: como resultado da qualificação da alfabetizadora, resultou uma série de exercícios que foram testados junto aos alunos e que, sistematizados, compuseram o material didático específico (como no caso do Kalivono), gerando mais significação p/ os alunos.
Recursos Necessários
Para o desenvolvimento do projeto é necessário o apoio da comunidade para cessão do espaço físico onde as oficinas são realizadas (salas de aula e afins). As oficinas são realizadas em maior número aos sábados, para não interferir no calendário escolar e quinzenalmente, para que os professores não fiquem sobrecarregados.
Para realização das oficinas são utilizados um projetor multimídia, um notebook, impressora com scanner, gravador digital, máquina fotográfica e materiais de consumo, tais como: papel sulfite, giz, lápis, EVA, cola quente, etc. As oficinas em geral são ministradas por membros da equipe, parceiros ou ainda profissionais que precisam de remuneração a depender do tema definido. Há custos de deslocamento (combustível e alimentação) aos ministrantes.
Para estruturação do livro didático é necessário um notebook com programa Corel Draw, impressora com scanner, HD externo e pagamento de profissional capacitado em diagramação. Há os custos com gráfica para impressão dos livros.
Resultados Alcançados
Diretamente 5 mil estudantes e professores das escolas mun. indígenas de Miranda e indiretamente cerca de 19 mil indígenas da etnia Terena de MS:
1) os livros produzidos serviram de material didático para outras comunidades terena, de outros 6 municípios além de Miranda;
2) o material produzido serviu como material de pesquisa das universidades: UFMS, UNEMAT, UFG, UEMS, UNESP e UNB e também do IFMS.
3) Motivou projetos similares em outras comunidades, que vieram aprender com o Ipedi a metodologia aplicada;
4) Em parceria com a ong Ecoa ofereceu formação continuada para professores indígena para o trabalho educomunicação;
5) Parceria com a Ecoa que possibilitou a produção de coleção de livros temáticos terena, impactando diretamente cerca de 19 mil indígenas de MS;
6) Garantiu recursos para o Kalivono Web, a produção de um glossário online em língua indígena;
7) Formatação de parceria com UFMS para desenvolver projeto na área de artes para professores indígenas;
8) Participação do Ipedi na formatação do Atlas de Linguas produzido pela UNB;
9) Realização de Congresso Rede Kalivono, que trouxe pesquisadores de todo o país para formar professores indígenas em Miranda.
10) Realização dos projetos Cultura e Identidade e Sons da aldeia impactaram 675 pessoas das aldeias indígenas Passarinho, Moreira e Babaçú, nos anos de 2016, 2017 e 2018.
11) Lançamento o livro bilíngue Fábulas de Esopo em Terras Terena distribuídos para 5 mil alunos das escolas urbanas, rurais, indígenas e não-indígenas de Miranda.
12) Realização, em 2018, do projeto Tramas que atendeu 40 pessoas da aldeia indígena Passarinho, com atividades de resgate de saberes tradicionais pela produção de artesanato indígena local;
13) Cerca de 5 mil indígenas de 6 municípios de MS foram impactados pela formação oferecida à 100 professores indígenas em iniciativa em parceria com a UEMS;
14) O Barco de Letras ampliou as turmas: antes, uma sala de aula apenas na área urbana. Foi aberta outra sala, numa comunidade ribeirinha e o numero total de alunos saltou de 11 a 35.
15) No Barco de Letras, melhora nos índices de alunos que passaram a ler e a escrever graças ao trabalho acessando serviços de cidadania que antes eram inacessíveis pela condição de analfabetos em que se encontravam;
16) Produzimos uma cartilha especifica para alfabetização de pescadores ribeirinhos adultos;
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