Problema Solucionado
Dados do Instituto Nacional de Câncer constatam que o câncer infanto-juvenil é a segunda ‘causa mortis’ da faixa etária de 5 a 19 anos, mas, apesar disto, sua inclusão como prioridade na área da saúde não é garantida.
Em MS, antes da existência da AACC/MS (Associação dos Amigos das Crianças com Câncer) e do CETOHI (Centro de Tratamento Onco-hematológico Infantil), o percentual de cura de câncer em crianças e adolescentes era de 4%. Hoje, depois do início desta tecnologia social, este percentual é de 67%. Também houve aumento da parcela de diagnósticos realizados precocemente, o que implica em prognósticos mais favoráveis.
Em pesquisa realizada com dados dos pacientes atendidos no CETOHI desde 2000, foi contatada a demora de assunção por parte do médico pediatra ou generalista da hipótese de câncer infanto-juvenil, dada a falta de percepção dos sintomas e sinais.
Esta TS busca reverter este quadro. Segundo dados fornecidos pela AACC/MS, de 2000 a 2007 no CETOHI, a frequência de pacientes com diagnóstico tardio era grande, sendo a média anual de óbitos de 18 pacientes. De 2008 a 2010, após ação desta TS, observa-se um decréscimo no número de óbitos para 14, uma diferença de 23%.
Descrição
Em 2008, esta tecnologia social teve início em Campo Grande, permitindo a capacitação de 551 profissionais de saúde. No mesmo ano, também foi iniciado processo de capacitação no interior do estado, abrangendo mais 291 profissionais. Esta ação prioriza municípios caracterizados pela Secretaria de Estado de Saúde de MS como principais "polos de atendimento do SUS" e aqueles onde mais se detecta o câncer infanto-juvenil no estado, ou seja, onde está o maior número de pacientes.
Do ponto de vista metodológico, o conteúdo do "Fique de Olho, pode ser Câncer Infanto-Juvenil" foi dividido em dois módulos, distribuídos em uma carga horária de 24 horas para cada capacitação, realizados durante três dias, através de aulas expositivas e interativas.
No Módulo I a capacitação foca na doença propriamente dita. Estando a cargo de médicos especialistas, o curso trata temas como: leucemia, linfoma, retinoblastoma, tumor de sistema nervoso central, epidemiologia, tumores de partes moles, osteosarcoma, cuidados paliativos, câncer de cabeça e pescoço.
No módulo II a capacitação foca na qualidade de vida do paciente. Sob a responsabilidade de profissionais que não da área médica, são tratados os temas do papel do programa de Saúde da Família na atenção oncológica, os principais aspectos de comportamento pós-diagnóstico, a humanização do tratamento oncológico, a reinserção da criança e adolescente na política nacional de atenção oncológica, os direitos e deveres do paciente e a nutrição no tratamento oncológico infanto-juvenil.
No início e no final de cada capacitação aplicam-se testes para avaliação do impacto do conhecimento sobre os cursistas. Ao final de cada etapa os relatórios são enviados ao IRM para avaliação, da qual participam os coordenadores do projeto visando trocas de experiências entre as diversas regiões do país.
Esta tecnologia envolve, de forma direta, segmentos importantes da sociedade local que passam a compreender seu alcance social na medida em que informações nela contidas aumentam as chances de vida de crianças e adolescentes com câncer.
A Secretaria de Estado de Saúde de MS participa de forma objetiva tornando essa capacitação obrigatória para aos profissionais do programa de Saúde da Família.
A Universidade Federal de Mato Grosso do Sul incentiva médicos pediatras residentes para que participem da capacitação e oferece recursos de infraestrutura.
A Sociedade de Pediatria de MS contata todos os pediatras dos municípios onde as atividades de capacitação são realizadas para que os mesmos participem.
A mídia dos municípios informa para a população em geral as possibilidades de cura do câncer com diagnóstico precoce e tratamento adequado, quando da realização das capacitações através de spots, material gráfico e entrevistas com os professores do curso.
Lideranças locais participam das aberturas dos cursos fortalecendo a importância social do evento.
Na fase de implantação em 2008, o IRM convocou as cinco regiões representadas pelas instituições selecionadas por edital para compor o projeto piloto de avaliação conjunta e redefinição dos parâmetros e metodologias, a partir dos quais traçou as normas para a implantação do Programa Diagnóstico Precoce nas diversas regiões do país.
O “Fique de Olho pode ser câncer Infanto-Juvenil”, apoiado pelo IRM, passa por monitoramento periódico e avaliação anual e, internamente, pela auto-avaliação da equipe de execução.
O Portal do Diagnóstico Precoce do Câncer Infanto-juvenil, instituído pelo IRM, visa à interação entre médicos já capacitados pelo programa, contribuindo com a identificação precoce do câncer em crianças e adolescentes e reduzindo o tempo entre o aparecimento dos sintomas e o diagnóstico, favorecendo a cura. Este portal passa a ser disponibilizado para os médicos a partir da conclusão da capacitação.
Recursos Necessários
- Infraestrutura: equipamento audiovisual, auditório compatível com o número de participantes, data show e computador;
- Apoio logístico: transporte, hospedagem e alimentação;
- Material didático pedagógico: pastas, canetas, rascunho, CDs (contendo o conteúdo da capacitação), cartilha do câncer infanto-juvenil (fornecida pelo Instituto Ronald McDonald e também disponível para download no site do INCA);
- Material gráfico de apoio: cartazes, filipetas e folders informando os principais sinais e sintomas, dados sobre AACC/MS e o CETOHI e os caminhos para os encaminhamentos de pacientes – referência/contra referência; banners com os gráficos de atendimento, para cada sinal e sintoma, exames indicados e acompanhamentos a fazer; certificados de presença;
- Material para controle: lista de presença, pré e pós testes - separados por categoria profissional, fichas de Inscrição - separadas por categoria profissional e avaliação final de capacitação.
Resultados Alcançados
Até dezembro de 2010 esta tecnologia atingiu 23 municípios do MS e capacitou 2.802 profissionais, tendo ainda por meta atingir os 78 municípios de MS em cinco anos, aglutinando localidades menores nos polos estabelecidos pela Secretaria de Estado da Saúde.
Em termos qualitativos os principais resultados foram:
- Do ponto de vista do sistema de Saúde, foi importante a abertura do ambulatório para diagnóstico precoce do câncer infanto-juvenil no CEM (Centro de Especialização Médicas), da Secretaria de Estado da Saúde em Campo Grande - organizando a rede de atendimento a pacientes e estabelecendo o sentido de “urgência” frente à possibilidade dos sintomas e sinais se transformar em diagnóstico;
- Crescimento do "sentido de alerta" de profissionais da saúde em relação a sintomas e sinais da doença, que passavam despercebidos em muitos casos, indicando um novo “olhar” desses profissionais para o câncer infanto-juvenil;
- Crescimento de 25% de casos encaminhados entre 2008 e 2010 ao CETOHI, em relação ao período de 2000 a 2007, e redução de índices de óbitos em 23% nesse mesmo período.
Ainda estamos no campo das possibilidades quanto aos resultados para o paciente. O tratamento é longo e só após cinco anos da cura é possível avaliar os riscos de recidiva da doença. Todavia já se observa uma redução na convicção, no entendimento coletivo de que o câncer infanto-juvenil não tenha cura.
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