Problema Solucionado
Segundo o IBGE, o Rio de Janeiro possui aproximadamente dezessete milhões de habitantes, sendo o terceiro estado mais populoso do país; ocupando bairros distintamente constituídos, com aproximadamente 1000 favelas, em sua maioria, fruto da ocupação desordenada dos morros e das periferias. Isto é, do total de 162 bairros, 139 têm favelas, correspondendo a 86% dos bairros. Estes locais sofrem com a falta de infraestrutura básica, com a ausência do poder público e, em muitos casos, tornam-se alvo preferencial de grupos e facções do crime organizado, que ali se instalam em busca de mão-de-obra barata da juventude local. Os polos das Escolas de Música e Cidadania da Agência do Bem são implantados neste contexto, tanto no Rio de Janeiro quanto em outras capitais com realidades semelhantes, levando oportunidades de acesso à educação e à cultura, para locais nos quais os índices de escolaridade e informalidade no trabalho são dramáticos e onde há completa ausência de equipamentos de lazer e cultura, acessíveis para a população local.
Descrição
A metodologia pedagógica adotada nas Escolas de Música e Cidadania cumpre um papel decisivo no desenvolvimento de uma maior capacidade de atenção, concentração, disciplina, responsabilidade e sensibilidade nos alunos, para que acompanhem as rotinas do projeto adequadamente e desempenhem as obras musicais propostas com a maior acuidade possível mas também, para que vivenciem essas habilidades nos outros campos de suas vidas. As etapas de aprendizado são organizadas em ciclos semestrais com 20 encontros. Mensalmente, cada aluno é avaliado pelo professor, nos quesitos Desempenho, Dedicação e Disciplina, com base no que ele observa durante as aulas regulares. Ao final do semestre, cada aluno realiza uma audição individual, durante a qual são avaliados sob os seguintes aspectos: Afinação, Pulsação, Expressividade, Postura, Concentração, Trabalho em Equipe. Tanto as notas mensais quanto as notas obtidas na audição são lançadas no sistema on line de gestão das Escolas de Música e a média aritmética das notas resulta na média final do aluno, no semestre. Não há alunos reprovados no projeto. A média final serve para que alunos, professores e coordenação da Escola de Música e Cidadania compreendam a evolução de cada aluno, mas todos estão aptos a seguir para o período seguinte, no nível mais adequado a continuidade do seu desenvolvimento.
A culminância do processo de desenvolvimento musical do aluno se alcança com o ingresso na orquestra do projeto – Orquestra e Coro Nova Sinfonia – formada pelos 42 alunos de maior destaque em todos os polos de ensino do projeto, no Rio de Janeiro ou em algum outro grupo orquestral. Neste estágio, apresenta-se o desafio máximo da realização do trabalho em grupo, de saber a hora de brilhar e também a de silenciar. No contato com o público os jovens musicistas colocam-se a prova, lidam com o orgulho e a vaidade, afirmam seu talento e compartilham as frustrações e as conquistas coletivamente.
Nos conteúdos das Oficinas de Cidadania são debatidos e trabalhados os temas pertinentes à cidadania, tais como o projeto de vida que cada um deseja construir para si, Direitos Humanos, Assédio Moral/Relações de Poder, Mercado de trabalho/Trabalho em equipe, Educação para o consumo, Violência doméstica e vários outros que são detalhados nos planos de aula, elaborados pela Coordenação das Escolas de Música e Cidadania e disponibilizados para os professores, contendo as atividades a serem desenvolvidas com os alunos, em cada um desses temas. Os alunos são estimulados a expandirem seus conhecimentos e visão de mundo, avaliando e reavaliando as suas relações com o outro: amigo, projeto, família, comunidade e sociedade, tornando-se protagonistas de suas próprias histórias. A proposta específica da Oficina de Cidadania é pautada no ciclo “questionar, debater, interpretar e transformar” continuamente, construindo novos significados para a vida dos jovens alunos, reafirmando o potencial criador de cada ser humano e fortalecendo o empoderamento da juventude.
A programação pedagógica propõe encontros semanais, durante os quais os alunos realizam a prática instrumental, o estudo da teoria musical e trabalham os temas de Cidadania. Para os alunos integrantes da Orquestra no Rio de Janeiro, há ainda 2 ensaios semanais, com 4 horas de duração cada um.
Nos 20 polos em funcionamento atualmente, são oferecidas aulas dos seguintes instrumentos : violino, viola, violoncelo, flauta doce, flauta transversa, clarineta, trombone, trompete, percussão e canto coral. A partir do terceiro mês de aula, os alunos da maioria dos polos recebem o instrumento na forma de empréstimo, possibilitando o estudo das lições em casa e retorno às aulas, na semana seguinte, com maior domínio do conteúdo. Para impulsionar o aprendizado e tornar a música parte efetiva de sua rotina, é estimulada a prática diária, com exercícios de apenas 20 minutos. Mas há também outro modelo de funcionamento de polo no qual os instrumentos permanecem no polo para utilização durante as aulas e, os alunos que podem estudar no próprio polo, em horários distintos da sua aula, a fim de potencializar seu aprendizado.
Ao final de cada semestre, há o Recital de Encerramento, onde todos os alunos tem oportunidade de se apresentar coletivamente para parentes, amigos e comunidade do entorno do polo. Os recitais são um momento de celebração dos resultados alcançados e de reconhecimento do empenho dos alunos durante o processo de aprendizado. Cada polo das Escolas de Música e Cidadania possui sua própria rotina de horário e turmas, tendo, contudo, que respeitar o contra turno escolar dos alunos. Os ensaios da Orquestra e Coro Nova Sinfonia acontecem aos finais de semana, possibilitando a presença de todos os alunos, dos turnos da manhã e da tarde. Nestes encontros, alunos e professores preparam e praticam o repertório para as apresentações, incluindo obras clássicas e populares, valorizando a diversidade musical e almejando sempre um resultado de qualidade.
Recursos Necessários
O processo de abertura de um novo polo da Escola de Música e Cidadania pode se dar a partir de iniciativa direta ou de parceria com entidades (ONGs, igrejas, centros comunitários) já instaladas no interior ou entorno de comunidades de baixa renda, que demonstrem compromisso com a proposta e disponham de instalações adequadas. Cada novo polo da Escola de Música e Cidadania deve beneficiar, no mínimo, 50 novos alunos através do ensino de, ao menos, um instrumento musical, contando com um professor responsável pelas aulas. As aulas seguirão a rotina de prática instrumental, teoria musical e cidadania, com carga horária de duas horas semanais para cada aluno. Neste formato, são necessários os seguintes recursos materiais para implantação da tecnologia:
- Uma sala de aula de 25m² com 50 cadeiras ;
- Um armário ou estante para armazenar instrumentos e materiais de oficina de Cidadania;
- Um quadro branco pautado;
- 25 estantes de partitura;
- 50 cadernos de música pautados;
- Material de papelaria: canetas, lápis, pincel permanente, papéis, etc;
-Instrumentos musicais (que variam de acordo com o programa de aulas de cada polo de ensino)
Resultados Alcançados
Entre os principais resultados do projeto está a consolidação da experiência e a efetiva disseminação da tecnologia social “Escolas de Música e Cidadania”, presente em 25 polos ao longo dos seus 13 anos de existência, já tendo atendido mais de 7.000 alunos com aulas de prática instrumental (em 15 modalidades distintas de instrumentos orquestrais), aulas de teoria musical e cidadania. Encerramos o ano de 2018, com 20 polos ativos, sendo 14 deles no Rio de Janeiro e 6 em outros 5 estados brasileiros, atendendo 2.000 alunos por ano. Em 2011 foi consolidada a Orquestra Nova Sinfonia formada pelos 42 alunos de maior destaque, selecionados por meio de audição anual, nos 14 polos de ensino no Rio de Janeiro. A Orquestra realiza apresentações mensais, no Teatro dos Grandes Atores, na Barra da Tijuca, RJ, e também já se apresentou em diversos palcos, desde o Theatro Municipal, à Cidade das Artes, no Centro Cultural do Banco do Brasil e no Cristo Redentor, passando ainda pelo MASP e pela USP, em SP, e até no L’Olympia Hall, em Paris.
No que diz respeito ao impacto social promovido pela aplicação desta tecnologia, a pesquisa feita com os responsáveis dos alunos, em 2018, revelou sua percepção positiva sobre a forma que a participação no projeto influenciou as vidas destes jovens, a saber: - 91% dos alunos nunca tiveram contato anterior com aprendizado musical; - 83% dos alunos se tornaram mais maduros e responsáveis depois que entraram para o projeto; - 52% melhoraram o desempenho escolar; - 73% apresentam maior poder de concentração e atenção; - 71% dos pais se dizem satisfeitos por seus filhos estarem aprendendo fundamentos para trilharem um caminho profissional.
Importante ressaltar também que as integrantes do gênero feminino representam 65% das crianças e jovens matriculados nas Escolas de Música e Cidadania e muitas delas narram que o primeiro e único local em que tiveram oportunidade de refletir, debater e vivenciar o tema da valorização e do empoderamento feminino foi no projeto, onde das mais diversas formas, esses temas estão presentes : desde os assuntos abordados nas Oficinas de Cidadania até a representatividade feminina, à frente da Orquestra, por meio das “chefes” de naipe que conduzem os demais instrumentista, nos ensaios e concertos. Estes resultados nos dão a certeza de cumprirmos a missão do projeto que, para além da formação musical, almeja formar cidadãos de fato, conscientes e protagonistas de suas próprias vidas.
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