Problema Solucionado
A consciência sobre o papel desastroso das ações humanas no planeta tem ganhado mais espaço. Pelas mostras dadas pela própria natureza: escassez de água, ondas de calor e frio, degelo dos polos, problemas na produção de alimentos ou pela insistência de cientistas que denunciam o caminho adotado afirmando que nosso planeta não resistirá a tanta exploração. Com os ODS/ONU passamos a ter um fio condutor de alta confiabilidade nos norteando como educadores e ambientalistas. Percebemos que existe uma grande dificuldade de trazer este tema para o dia a dia das escolas. O debate em torno da sustentabilidade se resume a algumas reflexões em períodos específicos, e muito voltado para temas de meio ambiente, dia da árvore, etc. Mas a profundidade do tema sustentabilidade e ações cotidianas são inexistentes. A partir daí, o EducaJovem decidiu utilizar os recursos existentes - amplo espaço físico e educadores motivados pela causa – e implantar o programa de sustentabilidade EducaVerde para além de desenvolver atividades dentro de seu espaço levar a proposta a outros espaços, iniciando pelas escolas e comunidades ao entorno.
Descrição
O EducaJovem é um programa de contraturno escolar que atende adolescentes de 11 a 18 anos matriculados em escolas públicas ou fora da escola, com oficinas socioeducativas e culturais. O EducaVerde nasceu no EducaJovem e se tornou um Programa de Sustentabilidade, aplicado em toda a Fundação Educandário (ensino básico, fundamental I e II e o contraturno) e ampliado para as escolas públicas, consistindo na construção de processos sustentáveis de convívio e utilização do espaço escolar, baseados nos ODS/ONU, traçando metas de atuação. A proposta funciona como um catalizador e organizador das demandas existentes no que se refere a sustentabilidade. Foram implantadas de forma sistematizadas ações que possam, nas mais variadas realidades, permitir que reflexões sejam feitas, práticas sejam alteradas e sementes sejam plantadas. O passo inicial passa pelo interesse da escola e sua direção em relação ao tema. Um segundo momento é o de encontrar educadores que se identificam com a proposta. Numa terceira fase se identifica educandos que possam tomar a frente das ações, seja de forma individual – voluntária, seja por meio de uma turma de determinado ano, ou através do Grêmio Estudantil.
Em nossas experiências tivemos uma participação muito importante das pessoas que executam a limpeza das escolas, as responsáveis pela alimentação escolar, coordenadores pedagógicos, funcionários em geral.
Assim, com os atores do processo identificados, iniciamos por reunir a todos para uma “chuva de ideias” referente a questão da sustentabilidade, ODS, desafios mundiais, nacionais e municipais, até chegarmos na escola. Esta caminhada pode durar dias, pode ser executada em aulas da grade curricular ou extraclasse. Desta forma conseguimos entender o papel de nossa ação, partindo do macro para o micro espaço, e entendendo a importância do que podemos fazer em nossa escola.
Em todos os casos identificamos a necessidade de aprofundamento da discussão sobre os ODS. Porém, o que de fato chama a atenção e garante a participação são as ações práticas.Essas ações ganham vida quando começamos a identificar as situações no micro espaço da escola que não condizem com uma vivencia sustentável. Este debate passa pela discussão sobre consumo consciente de energia, água e materiais escolares. Reaproveitamento e reutilização de materiais, reciclagem e descarte consciente.
Implantamos também uma tecnologia própria de compostagem e minhocários para os resíduos orgânicos, consistindo em tambores desenvolvido pelo EducaVerde produzindo adubo de alta qualidade.
As escolas em geral são concebidas com um olhar muito mais voltado a questão da segurança contra agentes externos do que com características atrativas, aconchegantes, confortáveis. Os jardins não se desenvolvem e apenas são roçados 2 vezes/ano. São locais esteticamente sofríveis. Nestes espaços praticamos a horticultura, fazendo canteiros, produzimos hortaliças e ervas aromáticas que são utilizados nas cozinhas. Os muros cinzentos acolhem pallets nos quais fixamos PET’s como vasos e plantamos uma variedade de plantas. Isso tudo com uma participação ativa dos alunos, fazendo campanhas de arrecadação de garrafas, trazendo mudas de suas casas, colocando a “mão na massa”. Este processo ajuda a identificar os diversos interesses dos alunos, contribui muito na socialização e no despertar para as coisas mais simples da vida.
Temos encontrado já o interesse de pais para fazer esta experiência em suas residências, estamos chamando de Quintais Produtivos, levando da escola para as casas as experiências bem sucedidas das escolas.
Por fim o projeto prevê a implantação de indicadores de sustentabilidade, que em nossa experiência conseguimos pinçar situações e questões do dia a dia que poderíamos transformar em dados. Esta experiência esta em curso e sendo testada no próprio Educa Jovem e será implantada nas escolas.
Coletamos as seguintes informações: Árvores plantadas em ações do EducaVerde; Mudas doadas para comunidade em geral; Lixo orgânico: Resíduos Orgânicos destinados a compostagem ou para o minhocário; Reciclagem: Resíduos sólidos destinados para reciclagem com separação; Resíduos sólidos comuns sem separação destinados ao recolhimento urbano; Alimentos Processados consumidos; Alimentos Naturais consumidos; Alimentos desperdiçados; Alimentos produzidos no local; Total de meninas nas atividades; Total de pessoas capacitadas em alimentação saudável; Consumo de água; Consumo de energia elétrica. Os dados coletados são inseridos em planilhas mensalmente. Assim com os gráficos notamos a evolução de nossas ações. Calibrando nossas atividades, direcionando o foco para áreas onde precisamos atuar com mais afinco. A partir destes indicadores vamos inserindo também as reflexões junto a comunidade escolar, tornando as ações cotidianas mais responsáveis pois ficam evidenciados em números nosso desafios e conquistas.
Recursos Necessários
Para implantação da uma unidade da Tecnologia Social, são necessários:
• 20 horas/mês do Consultor Ambiental para diagnóstico do espaço escolar, elaboração de proposta para aplicação, formação para os professores e participação em rodas de conversas com os alunos.
• Professores estimulados a participarem da Tecnologia que serão capacitados para a execução das atividades.
• 04 horas/mês de monitor especialista para atividades específicas (preparar terreno para horta, fixação de estrutura para hortas verticais, preparar cova para plantio de árvores)
• Recipientes de plástico recicláveis para a separação do lixo.
• Tambores de plástico recicláveis com torneiras para recolha de adubo líquido para implantação do minhocário e composteiras.
• Ferramentas para horta: Enxada, enxadão, pá, ancinho, tesoura, carrinho de mão, baldes, regadores, esterco bovino (para início do processo e depois a adubação é feita pelo próprio húmus da produção dos minhocários e composto).
• Sementes e mudas variadas de hortaliças, de árvores e de flores.
• Outros materiais necessários para execução das atividades: lupa, tinta, pincéis, garradas pets, caixas de leite, jornal, restos de madeira, pallets, tesouras, colas, grampeador de pressão, etc.
• Computadores com acesso a internet para pesquisas, quando possível.
Resultados Alcançados
O EducaVerde foi implantado em 2015 e foi crescendo de forma qualitativa, pela constante avaliação feita com os parceiros, educadores, adolescentes, gestores e familiares através de reuniões sistematizadas. Na sede da Fundação Educandário estiveram diretamente envolvidos 450 adolescentes beneficiando-se toda comunidade escolar. Na EE Nair Guilhermina Pinheiro Nogueira, são 40 alunos participando diretamente e 479 alunos beneficiados. Avaliamos pelos Relatos de Aula, documento interno de avaliação, que o aproveitamento dos alunos é sempre muito bom. Nos momentos das rodas de conversa sobre ação e consequência de como o homem lida com o meio ambiente, os jovens trazem ótimas reflexões e contribuições. Em todas as atividades são trabalhados temas como cooperação, a importância de uma alimentação saudável e a valorização da função social da terra. Tendo retornos extremamente positivos, segundo relatos dos alunos e dos próprios familiares. A produção da horta é utilizada tanto na alimentação dos alunos como na distribuída. Em 2016 e 2017, foram distribuídos: 600 maços de alface, 400 maços de cheiro verde, 350 maços de chicória, 200 beterrabas, 150 berinjelas, 100 maços de almeirão e 70 kits com tomatinhos. No viveiro de mudas, em 2015 e 2016, fora cultivadas mais de 3 mil mudas nativas e frutíferas, sendo que mil mudas, foram feitas pelos adolescente que prepararam a terra, encheram os saquinhos e colocaram a semente. Essas mudas foram distribuídas para parceiros como Grupo de Mulheres do Assentamento da Fazenda da Barra (Ribeirão Preto-SP), INCRA e munícipes. Em ações próprias, foram plantadas 300 mudas na avenida em torno da Fundação Educandário e na avenida em frente à EE Nair Guilhermina Pinheiro Nogueira, trajeto utilizado pelos adolescentes e familiares. Muitos estavam emocionados em revitalizar os canteiros das avenidas que transitam. Os ODSs trouxeram uma base importante para a prática já existente. Como as atividades reflexivas sobre a importância da alimentação saudável, produção livre de químicos e de forma sustentável, vão ao encontro com o ODS 2 e 12. O cuidado com o viveiro de mudas e o plantio em áreas que necessitavam de mais verde, convergem com o ODS 15. De qualquer forma, por trazer uma base sólida para o planejamento, os ODSs deixaram as aulas mais integradas com objetivos que outras pessoas e lugares estão perseguindo, tirando um pouco a noção de nadar sozinho contra a maré capitalista, comenta o educador Bruno Machado.
Comentários