Objetivo
O objetivo do Ecomuseu dos Campos de São José é promover o empoderamento comunitário e a valorização do patrimônio cultural e ambiental, tendo focado suas ações, entre os anos de 2015 e 2020, nos bairros Jardim Diamante, Jardim Americano e Campos de São José, vizinhos à Refinaria Henrique Lage (Revap), proporcionando um novo olhar das pessoas para a comunidade em que vivem, identificando os pontos positivos e questões a melhorar, mas sempre com foco naquilo que as mesmas podem resolver.
Faz isto a partir da identificação e valorização do patrimônio cultural local. Ao serem colocadas frente a frente com seus saberes, e valorizadas exatamente naquilo que são capazes de fazer, as pessoas se potencializam e iniciam uma tomada de consciência de seu papel na comunidade, no desenvolvimento do território. Propõem soluções para os problemas enfrentados coletivamente e agem em prol do bem comum.
Para tanto, são propostas ações de identificação, seleção, salvaguarda, difusão e manutenção do patrimônio local. Essas ações agem na articulação dos moradores, que são convidados a protagonizarem atividades culturais e ecológicas no território, contando com a parceria de escolas e outras instituições da localidade. As famílias são nosso público-alvo. Ao longo de sua execução, diversas atividades ocorreram, como: pesquisa de campo, plantio e manutenção de árvores nativas, cultivo de agrofloresta e hortas comunitárias, feiras de saberes e fazeres, rodas de artesanato, rodas de cantoria, rodas de conversa, entre outras ações que surgiram ao longo do processo.
A proposta que traz o Ecomuseu, conceitualmente, se apoia na ideia de que o homem se empodera de sua cidadania quando ele entende o valor do seu patrimônio cultural e natural e aprende a usar este patrimônio em ações de desenvolvimento local.
Problema Solucionado
A implantação do Ecomuseu Campos de São José teve início em março de 2015, com patrocínio da Petrobras/Governo Federal e apoio do Instituto Embraer. Desde então a comunidade deste bairro vem se organizando e realizando ações para melhoria da qualidade de vida e convivência comunitária. Logo nas primeiras reuniões do Núcleo de Ação do Ecomuseu, formado pela equipe contratada pelo Centro de Estudos da Cultura Popular (CECP) e moradores do bairro, o descarte de entulhos em uma Área de Preservação Permanente que se encontrava degradada foi apontado como problema local. Ao mesmo tempo, esses moradores que participam espontaneamente do Ecomuseu demonstraram interesse em realizar um plantio de horta comunitária numa área próxima a esta APP degradada. Articulando a Secretaria do Meio Ambiente da Prefeitura de São José dos Campos e a comunidade, conseguiu-se a autorização para realizar-se o plantio de mudas nativas a fim de recompor a mata ciliar do córrego Alambari. Concomitantemente, foi feito o cultivo dos gêneros alimentícios no entorno das mudas, numa perspectiva agroflorestal.
Seguindo o trabalho realizado na Agrofloresta do Parque Alambari, em 2018 um grupo de moradores de uma outra área do mesmo bairro, fomentados e apoiados pelo Ecomuseu, com o apoio da Prefeitura e vários outros parceiros, iniciaram a limpeza de um terreno público ocioso onde eram descartados resíduos de construção civil e outros lixos, prepararam a terra, fizeram os canteiros e iniciaram o cultivo de hortas comunitárias em pequenos lotes.
Desde que iniciado, o processo envolveu moradores que passaram a atuar positiva e independentemente no território público, construindo e mantendo uma horta comunitária, um bosque de árvores nativas e uma agrofloresta urbana em Área de Preservação Permanente na Microbacia do rio Alambari. Em termos numéricos, foi registrado o plantio de 500 mudas de árvores, manutenção de viveiro com 100 mudas, cerca de 9.000 m2 de hortas comunitárias cultivados - agrofloresta para recomposição de mata ciliar (0,7ha) e hortas urbanas comunitárias (0,2ha) -, cerca de 90 mutirões realizados, 190 pessoas diretamente impactadas, sendo cerca de 50 famílias envolvidas diretamente com as ações agroecológicas.
Descrição
Desde março de 2015, membros da equipe contratada pelo Centro de Estudos da Cultura Popular frequentaram os bairros para apresentar aos moradores a proposta, por meio de visitas aos lares e instituições, promoção de seminários e vivências com a comunidade, realização de rodas de conversa semanais, produção de feiras de saberes e fazeres, articulação da comunidade envolvida com serviços públicos e outras instituições.
Realizou-se um diagnóstico sociocultural a fim de iniciar o mapeamento das referências culturais dos moradores do Campos de São José. Nestes encontros, procurou-se criar um vínculo de confiança com os moradores, primeiramente explicando o motivo de estarmos trabalhando ali, relacionando a proposta atual com o trabalho realizado desde 1999 pelo CECP no Museu do Folclore de São José dos Campos, com ênfase no Programa Museu Vivo, e esclarecendo acerca do patrocínio da Petrobras/Governo Federal. Aos poucos fomos conhecendo as pessoas e registrando as informações em diários de campo e planilhas.
As informações obtidas foram sendo consideradas para a elaboração de um plano de trabalho onde foram previstas ações para dar visibilidade àquilo os moradores definiam como seus saberes e fazeres, seu patrimônio. Foram desenhados seminários, feiras, vivências, rodas de conversa especiais, encontros com jovens, ações no território, como plantio de hortas, cultivo de agrofloresta e revitalização de praças e parques.
Nestas ocasiões conversamos acerca de questões ambientais, sociais, culturais que atravessam o cotidiano da população deste bairro. Organizamos os eventos promovidos pelo Projeto, como seminários, feiras, vivências com a comunidade, rodas de bordado, memórias musicais, visitas e passeios, mutirões, caminhadas de reconhecimento, participação em eventos de terceiros, parcerias com instituições locais. Dividimos tarefas, produzimos ofícios juntos, pensamos sobre as necessidades materiais para a realização das feiras, abordamos questões teóricas acerca da ecomuseologia, confraternizamos, discordamos.
Foram realizadas Vivências com a Comunidade e Oficinas de Comunicação com Jovens. Nestas ocasiões, foi possível envolver moradores e instituições locais, como os donos de brechós, os usuários da Unidade Básica de Saúde, os alunos das escolas locais, participantes da pastoral da criança, bem como os funcionários e gestores. Foram discutidos assuntos sugeridos pelos membros do Núcleo de Ação, como traço comercial do bairro, a questão da saúde, a produção de comidas alternativas, a memória musical. Especialmente com os jovens foram tratados temas relativos à comunicação, como fotografia, produção de texto, captação de imagem audiovisual, produção de blog, de jornal comunitário e edição de documentário.
Também nas rodas de conversa conversamos sobre a possibilidade de promover, no bairro, uma Mostra de Saberes e Fazeres, uma maneira de valorizar e dar visibilidade aos trabalhos realizados pelos moradores, trabalhos que muitas vezes não aparecem no dia a dia, mas que pode agregar pessoas. O artesanato é um bom exemplo disto, assim como a música e a culinária. Pensou-se numa Exposição Cultural. Discutimos o local, o nome, o formato desta exposição, saímos pelo bairro para verificar o melhor lugar, o melhor horário. Decidiu-se por realizar a chamada Feira de Saberes e Fazeres Trecos e Tarecos no espaço público do Parque Alambari, numa intenção de revitalizar o local, além de ser uma região próxima das residências de várias famílias participantes do Núcleo de Ação que se formou em torno do projeto.
Enquanto estas ações pontuais aconteciam, seguia a pesquisa de campo com moradores do Campos de São José, Jardim Americano e Jardim Diamante. Ao longo dos dois anos, pudemos contatar pessoalmente cerca de 3.000 habitantes do Campos de São José, Jardim Americano e Jardim Diamante. Alguns desses se envolveram profundamente com o Projeto, tornando-se representantes do Ecomuseu e voluntários, articulando e promovendo ações. Mas a maioria delas, assim como era esperado, foram contatos realizados para coleta de dados da vida cotidiana e levantamento das referências culturais locais, tendo participado pontualmente do Ecomuseu.
Interessante ressaltar que a metodologia de ação do CECP e os princípios trazidos pelo pensamento ecomuseológico permitiram a aderência espontânea da comunidade às ações propostas.
Outro ponto positivo desta metodologia é trabalhar com a comunidade como um todo. Embora tenhamos realizado ações para grupos específicos, como mulheres, idosos e jovens, nosso objetivo sempre foi promover a interação entre as gerações, trazendo os jovens para participar das atividades com os adultos e vice-versa.
O fato de o inventário do patrimônio ser feito com indicação da comunidade gerou um sentimento de pertencimento e desenvolveu o espírito de equipe na comunidade. Além de possibilitar a publicação, em agosto de 2020, do livro Ecomuseu dos Campos de São José: entre Memórias e Perspectivas, que traz as narrativas do moradores sobre a formação dos bairros.
Por fim, o respeito aos ritmos da vida cotidiana foi importante para que as pessoas envolvidas não se sentissem atropeladas e com dificuldades de acompanhar o projeto.
Recursos Necessários
Recursos materiais necessários para 1 ano de atividade:
Telefone móvel para contatar comunidade;
Combustível para articulação das ações;
Material para produção das ações que serão apontadas pela comunidade;
Equipamentos como: notebook, câmera fotográfica, gravador de áudio, tripé;
Serviços gráficos;
Técnicos responsáveis;
Custos administrativos.
Resultados Alcançados
Pôde-se verificar que o Ecomuseu dos Campos de São José proporcionou uma visão mais completa e integral do território e de suas possibilidades para os participantes do Núcleo de Ação do Ecomuseu. Houve uma real mudança no comportamento dos envolvidos, que passaram a cuidar do espaço público, especialmente no caso da "Florestinha", promovendo o reflorestamento de uma Área de Proteção Permanente (APP) e envolvendo a vizinhança na separação dos resíduos sólidos e entrega da matéria orgânica para compostagem. O plantio e manutenção desta área, embora uma pequena extensão de terra, foi efetivo, pois todas as mudas de árvores nativas plantadas sobreviveram e já contabilizamos árvores nascidas espontaneamente. A comunidade de fato se apropriou do espaço, responsabilizando-se por seu patrimônio, acionando a Prefeitura quando necessário, especialmente no caso da limpeza do terreno próximo ao Alambari, onde entulho estava sendo depositado, e articulando-se com a Secretaria de Meio Ambiente (atual Secretaria de Urbanismo e Sustentabilidade) para resolver questões relativas à manutenção da área.
Também vimos a valorização do Parque Alambari, pois com a realização das Feiras de Saberes e Fazeres Trecos e Tarecos ali, o espaço foi bastante utilizado pela população. Muitas crianças se apossaram do parque, do gramado, indo participar das atividades, levando os pais a participarem.
Outro ponto bastante apontado pela comunidade como resultado positivo do Projeto, e que pode ser verificado no Documentário do Ecomuseu disponibilizado no YouTube (https://youtu.be/ptwda0FQF0k), foi a mudança de relacionamento entre os vizinhos e conhecidos do bairro e realização de ações conjuntas.
Além de articular a comunidade entre si e com setores da prefeitura, o Ecomuseu trouxe para São José dos Campos e outras regiões do país conhecimento acerca dos saberes e fazeres pulsantes no bairro, bem como um exemplo interessante de articulação comunitária a partir da cultura local. Parcerias diversas foram realizadas, tanto na cidade quanto fora dela, ações em rede, discussão teórica sobre Museologia Comunitária, revitalização da paisagem local, reconhecimento do trabalho por outras instituições.
A experiência no Campos de São José possibilitou, ao grupo intergeracional que se integrou à proposta, conhecer outros espaços e projetos sociais realizados na cidade.
Por fim, o Ecomuseu Campos de São José trouxe inspiração para outras iniciativas.
Público atendido
Adolescentes
Adulto
Agricultores familiares
Alunos do ensino basico
Alunos do ensino fundamental
Alunos do ensino medio
Artesaos
Crianças
Idosos
Tecnologias Sociais Semelhantes
Adolescentes Protagonistas
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