Problema Solucionado
Propor qualquer ação e/ou criar uma política pública para uma cidade sem que antes se elabore um diagnóstico das referências do lugar é um grande risco. Se o foco é adotar uma gestão de Cidade Criativa a demanda do diagnóstico ganha relevância, pois o conceito está atrelado às identidades locais. Para o IPCCIC, o problema que baliza o percurso é a falta de diagnóstico de potencialidades dos municípios baseado nas identidades culturais e, na sequência, a ausência de uma metodologia para realizar este diagnóstico de maneira a permitir localizar pessoas da comunidade com habilidades que possam incrementar o que a TS do Instituto chama de Economia da Pessoa, com destaque para a gastronomia, o quintal produtivo, o circuito curto, o turismo criativo, o trabalho artesanal, o modo de vida. O problema está em responder como criar um plano de gestão de cidade criativa, logo, imediatamente sustentável, com base nas potencialidades do próprio local de maneira a conceber os meios necessários para que os cidadãos, até então, usuários das cidades, passem a cooperar de forma cocriadora.
Descrição
No início das atividades do IPCCIC, o conceito de Tecnologia Social não fazia parte da base teórica do grupo. Somente dois anos após sua criação, as relações foram estabelecidas. Salutar esclarecer que apesar de o grupo ser originalmente formado por pesquisadores com perfil acadêmico, as experiências de campo validam a prática, e a compreensão do percurso está atrelada a manter cada fase vinculada ao referencial teórico que a explica, justifica e fortalece.
É importante contextualizar que os resultados esperados estão comprometidos com a formação do grupo que a aplicará, isso porque sua base está assentada na transdisciplinaridade, o que pressupõe ir muito além de uma atitude formal de trabalhar o conhecimento, sugere várias oportunidades ou situações reflexivas, dinâmicas no ser investigativo, e até mesmo, algumas reações refratárias visto que, ao mesmo tempo em que a transdisciplinaridade estimula a pensar nos opostos, a conviver com as diferenças, sugere compreensão do tema de maneira global, do ser holístico, pelas múltiplas visões dos sentidos buscando a ressignificação da capacidade de entendimento e compreensão do sujeito ou de algo, ou de si mesmo e do outro.
A partir de estabelecida a multidisciplinaridade da equipe que aplicará a Tecnologia Social, a mesma acontecerá em cinco fases/cadernos que articulam cinco movimentos, todos balizados pela junção de múltiplas ideias afins. Primeiro o grupo incorporou a Teoria U, do Presencing Institute vinculado ao MIT – Instituto Tecnológico de Massachusetts e, depois, absorveu as práticas do Design Thinking. Quando em atividade, a equipe sentiu falta de outras referências que contribuíssem para embasar suas escolhas. Foi quando estudaram a obra de Edgard Morin e adotaram vários de seus conceitos, em especial o de “envolvimento”. Após a elaboração do projeto “Equação de Tudo” (2015), o grupo precisou conceber o lugar do Amor no processo. A obra de Francisco Varela e Humberto Maturana respaldou novas propostas e, desta forma, o referencial que sustenta a Tecnologia Social do IPCCIC se consolidou em um conjunto de ideias-base que segue ordenadamente na formulação de cada caderno.
(1) diagnóstico das referências culturais e identitárias da cidade (groundsource – a partir da sociedade). Este diagnóstico está comprometido em fazer o download de tudo o que fora produzido sobre a localidade, reconhecendo atores, dialogando com a população, buscado fazer visível o que está invisível aos olhos dos gestores, conforme sugerem os estudos do Laboratório Cidade do Futuro, de ETH, de Zurique. Seria o momento, seguindo a Teoria U, de mergulhar em busca das informações produzidas sobre a cidade (econômicas, sociais, ambientais, culturais). Ao ouvir, os envolvidos, a equipe aplicadora deverá fazê-lo com base na escuta do nível 4, conforme especifica a Teoria U, que é a escuta empática, a que há transição de informação, de conhecimento. Esta proposta quebra a rotina de escuta política que se dá no nível superficial.
(2) relatório de potencialidades/possibilidades com destaque para as diretrizes urbanas/ambientais e culturais. Nesta fase, os pesquisadores usam a ferramenta da prototipagem para criar propostas. Trata-se de uma sistematização do modelo de pensar ideias organizadas na metodologia do Design Thinking. Melhor esclarecendo, eventual falta de conexão entre as fases 2, 3 e 4 com a 1, que origina o processo, a TS não sustenta e se descompromete em gerar os resultados prospectados.
(3) elaboração de conjunto de projetos para dinamizar as referidas potencialidades a partir da Economia Criativa e da Economia da Pessoa e suas cadeias produtivas, do Empreendedorismo Social e na formação do cidadão -cocriador de seu lugar. Este momento é quando a equipe, tendo reconhecido na etapa um, as habilidades das pessoas da cidade, (exemplos: a Nega do Caldo do Rio de Janeiro, cozinha em sua casa, vende no bar da esquina e contrata quatro pessoas. A dona Deise de Cajuru, produz bolo de milho a partir do circuito curto fomentando e circulando a produção da cidade. O Adriano de São Simão, que faz sorvete artesanal com as frutas das estações produzidas nos quintais das pessoas da cidade).
(4) fomento para a criação de redes de cooperação a partir do reconhecimento dos envolvidos (stakeholders). Esta prática surge como materialidade física das fases anteriores e dará o suporte para a implantação dos projetos. Neste momento, a autonomia do grupo aplicador da TS se restringe a uma pactuação com os atores da sociedade e do governo. Diagnosticar e propor pode ser considerado, na realidade brasileira, uma valiosa TS, mas quando a mesma é aplicada como fruto de entendimentos prévios que viabiliza o avanço para as etapas 4 e 5, o instrumento ganhar valor imensurável.
(5) Há o pacto com a comunidade local na aplicação da TS em sua versão completa, ao elaborar o diagnóstico (fase 1) já se estabelecerá indicadores para serem avaliados na fase final, assim compreendida como fase 5.
Recursos Necessários
A TS de Diagnóstico exige formação de equipe e horas de trabalho e os materiais são equipamentos digitais (foto e vídeo) para registro.
Resultados Alcançados
O maior investimento em tempo dedicado pelos pesquisadores do IPCCIC a uma cidade, foi ao município de Ribeirão Preto onde a TS foi aplicada em sua forma mais ampla, contemplando os três primeiros Cadernos. Este item permite uma consideração importante para análise dos benefícios da Tecnologia Social em destaque. O primeiro ponto é o de que nenhuma cidade pode seguir sem um plano de gestão e que nenhum plano de gestão pode ser elaborado sem diagnóstico preciso. Por fim, nenhum diagnóstico deve desconsiderar as Identidades Culturais do lugar. Assim, é possível afirmar que as três primeiras fases da TS se apresentam, juntas, como a “versão de diagnóstico” e, neste caso, a mesma já foi aplicada em 16 cidades. Os resultados mais significativos podem ser vistos por meio das fichas de avaliação que sempre são aplicadas ao término de qualquer atividade de formação. Sempre mais de 85% declaram absorção do conhecimento e pré-disposição em promover mudanças. Por conta do edital de TS do BB de 2015, incluímos uma pergunta especial em nossas avaliações, com a intenção de medir o impacto da transformação promovida na vida dos atendidos e, está certo, conforme material anexo, que o mesmo índice, entre 85% e 95% dos participantes são inspirados a fazerem revisões em relação aos seus posicionamentos cidadãos.
A aplicação da TS em sua “versão completa”, que implica diagnosticar e implantar não é autônoma, a execução é resultado de um processo de pactuação com o poder público e a sociedade organizada das cidades. Neste caso, há tratativas avançadas, em níveis diferentes, para ação da TS em dois municípios, Ituverava e Batatais.
Com base nesta constatação, é desejo que se considere a importância da TS parcial, pois o benefício está em diagnosticar e organizar proposições. Por outro lado, ela por si só, pode ser apresentada como uma TS, denominada Tecnologia Social de Diagnóstico. Quando em sua versão completa, a mesma deve ser denominada Tecnologia Social de Cocriação. Quanto à primeira, os resultados alcançados foram exitosos e podem ser conferidos no site www.ipccic.com.
Comentários