Problema Solucionado
A gênese da metodologia nasce no ano de 2016 a partir da experiência do projeto de extensão da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE – Campus Foz do Iguaçu), intitulado “Hotelaria em Ação”, e de um estudo encomendado pela AISOS Brasil em dezembro do mesmo ano, a par com a experiência da Organização no atendimento a famílias com risco de perda do cuidado parental, no formato de fortalecimento de vínculos.
A região norte de Foz do Iguaçu, onde a metodologia é aplicada atualmente, tem uma população estimada em 37.678 habitantes. A localidade foi escolhida devido ao alto índice de acolhimentos institucionais e de violação dos direitos das mulheres, além da proximidade física com a Universidade.
A proposta parte de indicadores de violações de direitos e violência doméstica que possam levar à perda do cuidado parental, identificados por um estudo de factibilidade, que visa apontar o nível de vulnerabilidade de determinada localidade. Pode ser aplicada em regiões com baixa oferta de serviços públicos com altos índices de violações de direitos relacionados à infância, adolescência e mulheres, nas proximidades de universidade com estrutura para a realização de projetos.
Descrição
A metodologia tem como base três pressupostos: 1) o desenvolvimento da cultura do cuidado; 2) a utilização do conhecimento e dos recursos universitários para o desenvolvimento econômico de comunidades vulneráveis; 3) a efetivação dos direitos das mulheres e a contribuição para seu empoderamento por meio do desenvolvimento de competências profissionais ligadas ao mercado local.
O primeiro aspecto da metodologia “Cultivando o Cuidado” é a promoção de uma cultura do cuidado por meio do empoderamento feminino, entendida como a sensibilização das participantes sobre seus direitos fundamentais e suas violações, além da articulação e comunicação como esforço de resolução de violações intracomunidade, criando um sentido de pertencimento e responsabilidade coletiva.
Por outro lado, toma alguns elementos da Metodologia do Enfoque Integral, desenvolvida pela SOS no Brasil, anexada à presente submissão. Dos dispositivos previstos, enfatiza-se três:
a) Análise da Realidade Local – construção de um “tema gerador” baseado não somente na coleta de dados, mas em como as pessoas envolvidas sentem a sua própria realidade, envolvendo a participação dos/das envolvidos;
b) Registros e Sistematizações – construção da memória das experiências de desenvolvimento local, divulgação, saberes relacionados às práticas (aspectos qualitativos), estimulando a reflexão e a discussão de assuntos e aspectos relacionados à prática e ao seu contexto.
c) Roda – representando o círculo perfeito, consiste em método de comunicação e organização em que não existe centralidade de partes, mas que possibilita a todos posicionar-se e comunicar-se de maneira democrática e relacional. Prima-se pela vivência dos princípios da liberdade de pensar, falar, praticar, refletir, sentir, intervir, planejar, cultivar e avaliar.
A partir dessas bases metodológicas (a premissa da cultura do cuidado e os dispositivos acima elencados), prevê-se três fases para a consolidação de ações:
1) Estudos preliminares de viabilidade (estudo de factibilidade e estudo de mercado – este segundo, quando necessário) e consultas comunitárias;
2) Articulação dos stakeholders envolvidos para viabilização do processo;
3) Organização e articulação das oficinas profissionalização e de empoderamento feminino.
Primeira fase: realiza-se estudo de factibilidade, cujo exemplar de Foz do Iguaçu é enviado em anexo, e estudo de mercado, que detectam as regiões com maiores índices de violações, tipos de intervenção possíveis e demandas do mercado local. No caso de Foz do Iguaçu, prescindiu-se do estudo de mercado devido à produção científica desenvolvida pela universidade em sinergia com a rede hoteleira local. É extremamente importante destacar que o tema e conteúdo das oficinas daí resultantes variam em cada localidade e devem se adaptar às demandas encontradas.
Segunda fase: a próxima etapa visa a criação de condições para aplicação de um ou mais projetos. Esta é uma fase crítica do processo que requer planejamento detalhado, pois dela depende o sucesso da fase seguinte. Em Foz do Iguaçu, foram necessárias reuniões com os professores e coordenação do curso de hotelaria para definição de responsáveis pelos planos de ensino e extensão e pela utilização do espaço, com quase um ano de negociações. Como atividade de extensão universitária, foi acordada a a emissão de certificados de formação da universidade para as participantes como curso de extensão. Nesta fase pode-se iniciar o desenho de intervenções e a busca por outros parceiros que interessem-se em apoiar as futuras atividades. No caso em questão, contou-se durante o período de aproximadamente seis meses com o apoio da empresa Itaipu Binacional, que forneceu os insumos (o termo de parceria encontra-se em anexo).
Terceira fase: o conteúdo desta etapa varia de acordo com a localidade e é onde ocorre a operacionalização de um ou mais projetos a partir das análises realizadas na primeira fase. Em Foz do Iguaçu, criou-se o projeto “Pão da Terra”. O espaço utilizado para formação é o laboratório de alimentos e bebidas do Curso de Hotelaria da Unioeste, com equipamentos de panificação e confeitaria. Além disso, contou-se com o apoio de professores da universidade para a definição da grade curricular da formação e dos colaboradores da SOS para a definição das estratégias de abordagem durante as oficinas. Por fim, inseriu-se estagiários do curso de hotelaria da Unioeste para apoio às atividades. Por parte da SOS, destacou-se colaboradora da área da psicologia para coordenar as ações, além de oficineira para a aplicação do conteúdo prático. São realizadas duas oficinas semanais, a partir das quais ocorre a venda dos produtos e a organização de fornecimento de serviços para eventos (salgados e doces para coffee-breaks e outros). Parte do recurso é reinvestido na aquisição de insumos, e a outra é direcionado às participantes. Atendeu-se, desde o início do projeto, 35 mulheres, com giro de mais de R$5.000,00 em vendas de produtos.
Recursos Necessários
A) Estrutura física: cozinha industrial, energia elétrica, água; Equipamentos: forno elétrico profissional, batedeira industrial, cilindro de massa, balança bateria gural, divisora de massa, armário de pão, mesa inox, forno industrial elétrico, geladeira industrial, seladora, amassadeira espiral, formas, espátulas, panelas; B) Insumos: farinha de trigo, acúcar refinado, açúcar cristal, óleo de soja, sal, ovos, fermento biológico, fermento químico, gordura vegetal, amido de milho, leite condensado, margarina, cacau em pó, essência de baunilha, chocolate em barra, leite em pó, perecíveis (vegetais, carnes e embutidos); C) Administrativo: notebook, impressora, papel A4, materiais de escritório em geral.
Resultados Alcançados
Até o momento, a partir do desenvolvimento da metodologia e início das atividades do projeto Pão da Terra, a comunidade Jardim Universitário, em Foz do Iguaçu, foi atendida, com 35 mulheres beneficiadas diretamente e 105 crianças e adolescentes indiretamente. Dessas, 17 já se formaram e foram certificadas pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná. Ao todo, até o momento, foram oferecidas 384 horas de aula por semestre de curso, com 10 mulheres atualmente realizando produção de pães e doces individualmente e complementando sua renda com a venda dos produtos. Por fim, nenhum acolhimento institucional foi notificado durante o período de aplicação da metodologia, com índice de 100% de permanência de crianças e adolescentes sob os cuidados das famílias durante o período, que poderiam ser acolhidos caso a ação não fosse desenvolvida.
Em termos qualitativos, a equipe técnica aponta o desenvolvimento e a consolidação da cultura do cuidado nas comunidades envolvidas, uma vez as próprias participantes trazem relatos de casos de violência doméstica na comunidade e violações de direito com relação a crianças e adolescentes, para os devidos encaminhamentos, além de colaborarem na orientação das famílias vizinhas.
Por outro lado, notou-se especialmente um incremento na autoestima das mulheres, em especial aquelas que fazem a venda dos pães. Há diversos relatos sobre a sensação de sentirem-se escutadas e importantes nos processos de produção e venda dos quais participam.
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