Objetivo
Empoderar crianças de comunidades rurais da Amazônia a partir da promoção da leitura e da gestão de bibliotecas comunitárias como espaço para compartilhar saberes
Problema Solucionado
A Amazônia Legal Brasileira representa 60% do território e 12% da população nacional, e concentra mais de 30% da biodiversidade do planeta. A região enfrenta grandes desafios para seu desenvolvimento cultural e educacional, especialmente no que se refere à leitura.
O crescimento populacional da região Norte foi marcado por estratégias do Governo Federal para ocupação de fronteiras e integração com o restante do país. As políticas desenvolvidas nos anos 70 e 80 tinham o objetivo de desenvolver economicamente a região e tiveram impacto decisivo para o fortalecimento da migração. Porém, as políticas para desenvolvimento cultural e educacional não tiveram a mesma atenção.
Um estudo realizado pelo IBGE 2006 mapeou os equipamentos culturais disponíveis em todos os municípios brasileiros, e os resultados mostraram que a região Norte é a que apresenta o índice mais baixo. A região da Amazônia Legal possui a menor quantidade de bibliotecas públicas do país e, segundo o IBGE 2009, 41,1% da população rural com 15 anos ou mais, é analfabeta.
Nesse contexto, a Vaga Lume atua desenvolvendo projetos e investindo no potencial das pessoas como agentes de transformação.
Descrição
Investir no empoderamento das pessoas é a melhor maneira de torná-las agentes da transformação social. A metodologia para criação de bibliotecas comunitárias e formação de voluntários é baseada no tripé Estrutura-Capacitação-Gestão, pois para a efetividade do trabalho da Vaga Lume é necessário que a entrega de recursos materiais seja acompanhada de ferramentas para sua inserção no cotidiano e formação de pessoas.
Estrutura: os livros do acervo são selecionados considerando a diversidade de estilos de texto, linguagens, assuntos e gêneros. São priorizados livros que promovam o contato do leitor com diferentes visões de mundo, como clássicos da literatura nacional e estrangeira, além de mitos, contos de fada e folclóricos, fábulas e lendas que mostrem diferentes épocas e culturas.
Por isso, a Vaga Lume distribui somente livros novos, acompanhados de uma estrutura básica composta por estantes, produzidas com madeira certificada em parceria com a Superintendência do Sistema Penitenciário do Pará (SUSIPE), livreiras confeccionadas com lona reciclada e tapetes.
Capacitação: a mediação de leitura é uma ação cultural que possibilita a vivência da leitura em um ambiente prazeroso, promovendo o contato com o livro e suas narrativas. O papel do Mediador de Leitura é dar voz ao livro e despertar o gosto pela leitura, diferente do contador de histórias, que interpreta o livro, e do professor, que precisa verificar o aprendizado. Nas palavras do Multiplicador de Ponte Alta do Tocantins (TO), Noé Bezerra, “a função do Mediador é ler para o outro. Até que ele possa sair de cena e dar lugar ao livro apenas. O livro se basta”.
A distribuição de materiais da Vaga Lume é acompanhada de um curso para formação de mediadores de leitura, com carga horária entre 24 e 40 horas. Os participantes do curso são professores, moradores das comunidades e técnicos das Secretarias de Educação interessados em se envolver com as atividades na comunidade. O curso incentiva o voluntário a realizar sessões de mediação, inserindo a leitura em seu cotidiano.
A capacitação também aborda a cultura local, valorizando a memória oral e as histórias das comunidades. São promovidas rodas de histórias, nas quais os moradores mais antigos contam os “causos” e lendas, e os participantes fazem o registro e a ilustração, produzindo livros artesanais, que passam a fazer parte do acervo das bibliotecas comunitárias.
Multiplicadores
Desde 2007, a Vaga Lume investe na formação de Multiplicadores da metodologia com o objetivo de dar maior escala e garantir a continuidade da ação em longo prazo. Podem ser formados Multiplicadores representantes da Secretaria de Educação e mediadores de leitura envolvidos nas atividades das bibliotecas.
Os Multiplicadores são executores diretos do trabalho da Vaga Lume em seus municípios. Atuando sob orientação da equipe técnica de São Paulo, eles são responsáveis pela articulação e mobilização de parcerias locais, pela realização dos cursos de mediação e pelo acompanhamento do trabalho dos mediadores.
Gestão comunitária: as regras de funcionamento, a localização da biblioteca, os responsáveis pela manutenção e a realização de atividades culturais são definidos pelos moradores da comunidade. Eles elegem voluntários, responsáveis pelo funcionamento do espaço e também por estimular a gestão comunitária.
As parcerias com as Secretarias de Educação são importantes para a sustentabilidade do programa. Elas viabilizam a execução do projeto, disponibilizando técnicos, professores, apoio logístico e mobilizando as comunidades para participação.
Recursos Necessários
-Despesas Fixas (aluguel, água, luz, telefone, despesas administrativas, recursos humanos);
-Formação continuada de multiplicadores (Congressos);
-Gestão - Expedições de Monitoramento;
-Para implantação de 1 biblioteca:
Kits para Bibliotecas (no mínimo 300 livros, 2 estantes, 1 livreira e 2 tapetes)
Formação - Cursos de mediação de leitura (material pedagógico, alimentação e transporte)
Expedições de Diagnóstico – seleção de comunidades e potenciais voluntários (logística)
Expedições de Monitoramento – avaliação e acompanhamento (logística)
Resultados Alcançados
Nos 23 municípios da Amazônia Legal onde atua, a Vaga Lume já criou 154 bibliotecas comunitárias, distribuindo aproximadamente 78 mil livros novos de literatura.
Já foram formados 2.396 mediadores de leitura (pessoas da comunidade formadas para atuar em ações voltadas à promoção do livro e da leitura) em 97 cursos. Desde 2007, também foram formados 312 multiplicadores (pessoas da comunidade e funcionários das Secretarias de Educação formados para monitorar e formar novos mediadores, multiplicando, assim, a metodologia).
Do ponto de vista qualitativo, os principais resultados são: a inclusão do hábito de leitura no cotidiano escolar e das comunidades, melhorias nos processos de aprendizagem, a participação dos moradores na gestão da biblioteca e a ampliação do potencial de transformação social e econômica das comunidades. A organização também obteve importantes premiações como Prêmio Objetivos do Milênio da ONU em 2005, Prêmio VivaLeitura em 2008, Prêmio JK do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) em 2009.
Os dados coletados sobre os efeitos nas práticas escolares parecem muito promissores e são os mais expressivos. Todos os atores envolvidos no processo, do gestor público ao aluno, reconhecem mudanças trazidas pelo projeto: diversificação da prática do professor, estímulo ao uso da biblioteca, valorização da leitura e incentivo ao comportamento leitor dos alunos.
Essas mudanças podem ser percebidas em um depoimento do diretor de uma escola de São Miguel dos Macacos, comunidade de Breves (PA) “... desde que foi implantado o projeto aqui na comunidade de São Miguel a escola teve um avanço de 60%, 70%, na questão da leitura. Verificamos isso através das próprias notas, porque antigamente o aluno pegava a prova e ficava tipo um cego, e agora com a biblioteca, ele passou a ter um interesse maior pela leitura, teve interesse da comunidade também”.
Foi observado um envolvimento maior da comunidade na valorização de histórias e da cultura local pelas oficinas de produção de livros artesanais. Desde 2001, foram produzidos 241 livros a partir de histórias contadas por pessoas de referência em cada comunidade. As comunidades foram incentivadas a criar espaços de diálogo entre as diferentes culturas, durante eventos e atividades promovidas pela equipe Vaga Lume.
Público atendido
Alunos do Ensino Básico
Alunos do Ensino Fundamental
Alunos do Ensino Médio
Adolescentes
Crianças
Lideranças Comunitárias
População Ribeirinha
Povos Indígenas
Povos Tradicionais
Jovens
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