Problema Solucionado
Pequenos comércios do Território do Bem estão adaptados à realidade periférica de um tempo em que a maioria da população possuía um perfil socioeconômico de baixíssima renda e, a falta de um comércio local minimamente estruturado não permite uma rentabilidade justa para os comerciantes e nem a geração de postos de trabalho.
Dados oficiais apontam que hoje: 80,3% das famílias tem renda de até 3 salários-mínimos e que boa parte da renda dessas pessoas é usada na compra de alimentos. Sobre a escolaridade: 6% de analfabetos e 49% de moradores que têm o primeiro grau incompleto. Somando-se a atuação do tráfico de drogas a essas condições, há um nocivo panorama de criação de uma representação social negativa, o que dificulta o acesso da população local a oportunidades e serviços disponíveis fora do território. Trabalho e renda são desafios e a alternativa para muitos moradores é empreender, produzindo ou comercializando produtos.
Os comércios locais, formais e informais do Território, compram caro, praticam preços altos para o consumidor final e ofertam um pequeno mix de produtos perdendo vendas para mercearias e supermercados mais estruturados, de fora da comunidade.
Descrição
A Central de Compras contribui para o aquecimento da economia local dos morros de São Benedito e Jaburu, no Território do Bem, em Vitória/ES.
Pequenos empreendimentos de periferias urbanas, de modo geral, enfrentam um enorme conjunto de problemas básicos que impedem a consolidação de seus negócios. Entre esses problemas destaca-se a falta de articulação e capital de giro, que diminui o poder de negociação junto aos fornecedores, fazendo com que muitas vezes pratiquem preços altos para o consumidor final e ofertem um pequeno mix de produtos e serviços no Território do Bem.
A falta de um comércio local minimamente estruturado não permite uma rentabilidade justa para os empreendimentos e nem a geração de empregos e ainda contribui para a desvalorização do Território.
Para lidar com essa realidade a Central de Compras do Bem foi pensada em 2012, de modo participativo, como uma estratégia de articulação e organização dos pequenos comerciantes locais em rede, visando proporcionar o fortalecimento de seus negócios, a partir de compras coletivas, permitindo o aumento do poder de negociação junto aos fornecedores, a redução de custos gerais, sobretudo com transporte e frete de mercadorias e a criação de ações conjuntas de melhoria tanto para os associados quanto para o consumidor local, que hoje, muitas vezes, se vê privado do acesso a muitos itens de consumo, na própria comunidade.
A compra coletiva da Central de Compras do Bem – de modo geral – segue um processo que ocorre periodicamente sob a coordenação voluntária de uma Comissão Gestora da Central de Compras, que é formada por 2 ou 3 comerciantes associados, representando os demais participantes do coletivo.
A tecnologia social deve ser executada de acordo com um modelo de gestão participativa, baseado em um arranjo com 3 atores principais: Uma entidade de apoio e assessoria (no nosso caso é o próprio Ateliê de Ideias), como organização gestora, coordenadora e responsável pela realização das atividades e alcance dos resultados previstos; Uma organização de base comunitária, no caso da experiência em curso esse parceiro estratégico é o Grupo Nação, que possui um trabalho em desenvolvimento com os comerciantes de sua comunidade, Jaburu e o coletivo de comerciantes em rede.
Parte de um diagnostico das demandas específicas de qualificação dos empreendedores locais, considerando avaliações sobre a qualidade do produto/serviço, processo de comercialização, assim como um estudo sobre o mercado local e do entorno para identificar oportunidades, tendências e demandas para composição e adequação de produtos/serviços.
Facilita para que empreendedores locais articulados em redes, sejam capacitados e tornem seus pequenos empreendimentos comerciais mais competitivos e rentáveis, capazes de atrair e mobilizar consumidores em suas vizinhanças, que hoje compram em lojas que ficam fora da comunidade.
O processo atual da Central de Compras do Bem é totalmente manual e em cada comunidade recolhe todas as informações em uma planilha do Excel, onde junta-se os pedidos individuais, atualiza manualmente todos os detalhes da compra, incluindo preço mais baixo, faz o pedido, analisa os produtos recebidos e encaminha para o pagamento por cada participante da Central de Compras.
E, na expectativa de facilitar o processo das compras, um aplicativo móvel de celular, que teve seu roadmap exclusivamente pensado por consultores da IBM para a Central de Compras do Bem, está sendo desenvolvido para automatizar e descentralizar essa funcionalidade, tanto quanto possível. A previsão é que o aplicativo (em construção), já esteja em teste em julho de 2017.
Esse aplicativo mobile vem para aperfeiçoar os processos da Central de Compras, reduzindo os custos e o tempo de giro do ciclo da compra coletiva, facilitando o fluxo das informações, dará transparência aos processos, auxiliará na compreensão, nos encaminhamentos, no acompanhamento, no controle processual e na adoção de medidas que possam melhorar permanentemente todo o processo.
A iniciativa atua na construção de uma rede cooperativa de economia solidaria, conectando comerciantes com os moradores, que são consumidores em potencial – aqueles que podem desenvolver, de fato, os pequenos negócios locais, ao escolherem por consumirem em suas próprias comunidades ao invés de irem às grandes lojas nos centros comerciais da cidade. Estimula os moradores a comprarem perto de suas casas, mantendo as riquezas que são trazidas para as comunidades circulando dentro das próprias comunidades, gerando trabalho e renda de modo endógeno.
Recursos Necessários
Para estruturar uma nova unidade da Central do Bem faz-se necessário o investimento para a realização da primeira compra coletiva de gêneros alimentícios básicos e materiais de higiene e limpeza que serão distribuídos à preço de custo entre os comerciantes participantes da rede para a comercialização. Cada comerciante devolverá o valor da sua cota parte na compra coletiva (estimado em 400 reais por comerciante) criando um fundo de capital de giro dessa nova Central de Compras, facilitando melhores transações comerciais entre os pequenos empreendimentos e entre os pequenos comerciantes e os fornecedores atacadistas, por viabilizar compras no atacado com o pagamento à vista.
Vale destacar que por falta de capital de giro os comerciantes, de modo geral, compram pouco e no varejo e, por isso, praticam preços altos e oferecem um mix pequeno de produtos. A ideia da Tecnologia Social Central de Compras é inverter essa lógica, a partir do acesso aos recursos do fundo de capital de giro o comerciante, via compra coletiva, tendo acesso aos atacadistas comprará melhor e mais quantidade de produtos e poderá vender a preços mais justos na comunidade, mantendo a prateleira do comércio sempre cheia.
Também serão necessárias aquisições de peças publicitárias como banner e etc.
Resultados Alcançados
Para os comerciantes/ pequenos comércios participantes: qualificação e expansão de 40 comércios, em função do suporte técnico favorecido, de linha de crédito com taxas diferenciadas e acesso direto a um grupo diversificado de fornecedores e ainda, aumento na renda média e acesso a benefícios como auxílio maternidade, auxílio doença e aposentadoria foram conquistados pelos comerciantes que se legalizaram como pequenos empresários (Microempreendedor Individual);
Por dois anos foram realizadas trimestralmente visitas à 10 comércios para monitoramento dos preços de venda praticados pelos comerciantes e avaliação do desempenho dos estabelecimentos comerciais participantes das centrais, de acordo com indicadores como preço de compra e venda de 6 produtos da sexta básica (arroz, feijão, farinha, óleo, macarrão e café) e a rentabilidade (receita média trimestral) dos comerciantes participantes.
O Percentual médio de redução do preço pago por 6 produtos (comparando o preço do valor que seria pago na compra individual x compra coletiva) foi de 33,55%. A fórmula utilizada para se constatar o resultado apresentado foi: Fórmula: {(Valor Individual – Compra coletiva)/valor individual)x 100}.
O percentual médio da margem de contribuição dos comerciantes para cada um dos 6 produtos monitorados no projeto foi de 37,22%. A fórmula utilizada foi: {(Valor de venda – valor de compra)/valor de venda)x 100}.
E o percentual de aumento da Renda Média Mensal dos comerciantes envolvidos e beneficiados pelas Centrais de Compras Coletivas foi de= 347,54 %
Para as comunidades: melhoria de alguns comércios locais que são canais de suprimento de produtos básicos, com acesso a produtos de qualidade e a preços mais compatíveis com o mercado (melhoria do consumo). A estruturação da Central de Compras teve efeitos não só econômicos, mas também políticos, sociais e culturais, considerando que os associados do Grupo Nação- organização de base comunitária de Jaburu, por exemplo, se capacitando para oferecer o suporte necessário para a formação de arranjos produtivos e comerciais locais, se capacitam para a gestão da própria organização.
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