Objetivo
Formar crianças e jovens de maneira transversal e interdisciplinar através de expressões e manifestações da História e da cultura afro-brasileira e africana - em diálogo com a realidade social da comunidade - contribuindo com a valorização da presença africana na formação da identidade nacional e com a construção de uma educação identitária, artística, antirracista e cidadã.
Problema Solucionado
A carência de creches e de escolas em tempo integral, o déficit de espaços de lazer e o sucateamento de instituições que zelam pelos direitos das crianças e adolescentes, como o conselho tutelar, são alguns dos problemas pelos quais diagnosticamos a necessidade de criar uma alternativa educacional no contra turno da escola formal, diante, também, de todo cenário de vulnerabilidade social e de questões de Segurança Pública que afetam, principalmente, crianças e jovens negros de bairros populares e periféricos de Salvador, como é a caso da região geográfica que abrange o bairro da Liberdade. Alguns dados alarmantes do Monitoramento dos indicadores na Plataforma dos Centros Urbanos 2017-2020 do Unicef comprovam que: “de 2016 a 2019, houve um aumento de 52% da taxa de homicídios de adolescentes na cidade como um todo. (...) Em São Caetano/Liberdade, a taxa passou de 93,60 para 138,90. (...) A taxa para meninos de 10 a 19 anos cresceu de 115,21 para 145,60 mortes por 100 mil habitantes, enquanto a taxa de adolescentes negros cresceu de 67,11 para 98,26 mortes por 100 mil, revelando a importância das políticas com dimensão de gênero e raça.”
Descrição
A criação do método de ensino da Escola de Dança e Percussão Band’Erê, em 1992 - pelo bloco afro Ilê Aiyê - traz na origem de sua essência o compromisso com os jovens em situação de vulnerabilidade social. Inicialmente, o programa de arte-educação-cidadã contemplava a formação de crianças e jovens percussionistas, mas logo se desdobrou em outras vertentes fundamentais para a transformação social e cultural da população negra soteropolitana.
Fundado em 1974, o Ilê Aiyê é uma organização cultural que luta pela valorização e a inclusão da população afrodescendente, e hoje é um Patrimônio da Cultura Baiana. O bloco foi criado por um grupo de jovens no início do processo de redemocratização do Brasil, ocasião em que os movimentos sociais começaram a ter maior viabilidade política. Este contexto teve a sua repercussão na juventude negra de Salvador gerando novos comportamentos e formas próprias de expressão. Com a iniciativa de jovens do Curuzu no bairro da Liberdade em fundar um bloco de carnaval só de negros, o Ilê Aiyê, trazia uma proposta estética inédita. Além da Escola de Dança e Percussão Band’Erê, a entidade mantém ainda, desde 1988, Escola Mãe Hilda Jitolu, ofertando Educação Infantil e Ensino Fundamental para crianças e jovens dos bairros da Liberdade, Pau Miúdo, IAPI, São Caetano e adjacências, em Salvador.
Com o entendimento de que a Música se torna um portal para a Educação, incluiu a Escola Band’Erê - além da Percussão - aulas de Reforço Escolar, Cidadania, Estética Afro, Dança Afro e Toques Ancestrais, tendo como base e diretriz os pilares de uma educação antirracista. Nesse contexto, a promoção do entendimento da equidade na juventude, nos processos de promoção de direitos para igualdade, o fortalecimento da identidade racial e de gênero, combatendo estereótipos e preconceitos e incorporando a ancestralidade e o pertencimento enquanto dimensões da identidade negra.
A tecnologia social Band’Erê atende anualmente 80 crianças, nos turnos matutino e vespertino. Mantém ainda o Coral Erê e a Banda Erê, iniciativas de sucesso onde a formação se completa através da manifestação artístico-cultural de jovens. Ao longo do ano, os alunos vão, em visita guiada, aos principais eventos da cidade (feiras, exposições, museus, etc), pontos turísticos e culturais, fábricas e oficinas, restaurantes e hotéis para a ampliação de seus repertórios de conhecimentos e integração à cidade em que vivem.
A tecnologia social Band’Erê vem sendo replicada desde de 2023 na cidade de Maricá, no Rio de Janeiro, contemplando 42 estudantes de escolas públicas em comunidades locais de baixa renda, através da qualificação dos participantes como produtores artísticos culturais.
As atividades em Maricá continuarão em 2024, onde os formandos do ano anterior atuarão como monitores e multiplicadores, em parceria com o Instituto Brasil Social - IBS, e Instituto de Ciência, Tecnologia e Inovação de Maricá - ICTIM.
As inscrições para o ano letivo da Escola Band’Erê ocorrem no mesmo período das matrículas da rede de ensino público, podendo ser prorrogada por mais 1 (um) mês, de acordo com a demanda.
A idade mínima do aluno é de 8 anos e a idade máxima de 17 anos. O ciclo de formação se completa com 12 meses; mas o aluno pode permanecer se matriculando nas atividades da Escola durante toda essa faixa etária. Ou seja, durante 9 (nove) anos, onde há uma progressão que pode resultar na inserção de mercado através da música, como educadores artísticos ou mesmo em outras áreas profissionais.
É exigido do aluno que esteja matriculado na rede formal de ensino e que apresente bom rendimento escolar.
O período de cada aula tem duração igual ao das aulas do ensino formal; ratificando que a Escola Band’Erê é uma formação que ocorre no contraturno do ensino formal de cada aluno.
A carga horária total de cada módulo varia entre 12 horas-aula e 44 horas-aula, de acordo com o conteúdo programático de cada disciplina, não ultrapassando 200 horas-aula por semestre.
Os períodos são divididos em semestres, que geralmente inclui, como já citado acima, as seguintes disciplinas: Percussão; Aulas de Reforço Escolar; Cidadania; Estética Afro; Dança Afro; e Toques Ancestrais.
Cada disciplina contempla a realização de três módulos: Aulas Teóricas (módulo 1), Aulas Práticas (módulo 2) e Atividades Complementares (módulo 3).
As avaliações são feitas através das apresentações que os alunos fazem em apresentações escolares ou públicas.
Não há certificado.
A avaliação da aprendizagem baseia-se em uma prática diagnóstica e processual com ênfase nos aspectos qualitativos.Para tanto, a avaliação deve se centrar no aluno, em seus conhecimentos prévios que partirão da reflexão de como avaliar. Quando realizada durante o processo, ela tem por objetivo, informar ao professor e ao aluno, os avanços, as dificuldades e possibilitar para ambos refletirem sobre a eficiência do processo educativo, possibilitando os ajustes necessários para o alcance dos melhores resultados, e por conseguinte, o envolvimento de todos nos trabalhos e discussões.
Para que seja eficaz, deverá ser processual e ao longo do curso, partindo do que o aluno já sabe e o que precisará saber.
A avaliação deverá proporcionar aos alunos debates orais; demonstração de técnicas em laboratório; dramatização; apresentação de trabalhos; portfólios; seminários; resenhas; autoavaliação, entre outros. A bibliografia de cada disciplina é composta tanto por referências de publicações de entidades e instituições quanto por produção bibliográfica própria, como, por exemplo, os Cadernos pedagógicos do bloco-afro ilê Aiyê (1995-2021).
Recursos Necessários
Para a implantação da tecnologia social da Escola de Dança e Percussão Band’Erê são necessários a aquisição de instrumentos de percussão, equipamentos e materiais, a exemplo de atabaques, talabares, xequerês, equipamento de som e vídeo, peles, baquetas, agogôs, camisas, malhas, tecidos, adereços, aviamentos e objetos de costura, entre outros materiais escolares e pedagógicos utilizados na rotina de aprendizagem; que inclui, lápis, canetas, papel ofício A4, tinta de impressora, cadernos, entre outras necessidades de rotina da Escola.
Além disso, compõe os recursos humanos da tecnologia social os instrutores de Percussão, Reforço Escolar; Cidadania, Estética Afro, Dança Afro e Toques Ancestrais e uma equipe de coordenação, secretaria, assessoria de comunicação, merendeira, portaria, serviços gerais e prestadores de serviço.
A tecnologia social Band’Erê atende anualmente 80 crianças, nos turnos matutino e vespertino. Os períodos são divididos em semestres, que geralmente inclui, como já citado acima, as seguintes disciplinas: Percussão; Aulas de Reforço Escolar; Cidadania; Estética Afro; Dança Afro; e Toques Ancestrais. O ciclo de formação se completa com 12 meses.
Resultados Alcançados
Em mais de 30 anos de atuação, o programa já formou mais de 10 mil estudantes; incluindo educandos do bairro da Liberdade e de mais de 20 comunidades populares e periféricas de Salvador. A tecnologia social Band’Erê atende anualmente 80 crianças, nos turnos matutino e vespertino. São inúmeros os exemplos de jovens que hoje empreendem, atuam em diversos segmentos e como multiplicadores em suas comunidades, como é o caso do músico Luciano Piu, ex-aluno do Band’Erê que hoje trabalha com o cantor Léo Santana. "O projeto é muito importante. Através dele, cresci e aprendi muitas coisas. Passei por workshops, oficinas de música e teatro. O interessante é isso. Tira os jovens da rua, ainda mais hoje em dia que está precisando. Muita gente da minha época, graças a Deus, está trabalhando” (depoimento de Luciano Piu).
Há 10 anos como um dos professores de percussão da escola, Jacinto de Souza Filho conta que percebe como a escola transforma positivamente a vida das pessoas. “Esse projeto retira as crianças da vulnerabilidade. As mães se sentem seguras sabendo onde os filhos estão. Isso funciona como instrumento de transformação. A gente vem com intuito de ensinar, mas a gente acaba aprendendo com eles. Eles são acolhidos, mas também acolhem a gente. Para a gente, é uma satisfação”, pontuou.
Ubiratan Vasconcellos relembra da época dos momentos e importância de fazer parte do grupo. “Eu entrei em 1995. Fiquei até 2003. Em 2004, ingressei na banda adulta. Foi uma experiência maravilhosa, sendo da comunidade, adquiri conhecimentos. Eu tive um celeiro de grandes mestres. Ser um jovem da comunidade e ter essa oportunidade de estar no mercado profissional”, contou. Atualmente, Ubiratan trabalha como auxiliar de escritório na Sede do Ilê Aiyê.
Fonte: Portal g1 Bahia - reportagem de 17/11/2019.
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