Problema Solucionado
Com o contexto de estiagens constantes na região a ideia surge em uma reunião do grupo de mulheres do assentamento Monte Alegre I em Upanema, Rio Grande do Norte, em decorrência das discussões sobre as alternativas de convivência com o semiárido, em especial as estiagens dos últimos quatro anos, haja visto a continuidade dos quintais produtivos, em que muitas mulheres cultivam frutas e hortaliças e criam pequenos animais. Como a maioria já reutilizava a água de lavagem de roupa, louça e do banho para aguar algumas plantas veio a discussão de utilizar em outras fruteiras e hortaliças, porém estava imprópria para tal uso, devido ao sabão e outros componentes prejudiciais às plantas de menor ciclo de vida. Foi assim construída a tecnologia para que, com o aproveitamento da água cinza, a tecnologia pudesse amenizar o esforço das mulheres na busca da água, fazer o escoamento da água cinza e contribuir com o saneamento dos quintais e, principalmente, para a produção de alimentos para consumo próprio – garantindo soberania alimentar – como também para geração de renda, através da auto-organização em busca de autonomia e convivência com o semiárido.
Descrição
Essa tecnologia social é fruto de uma construção coletiva que iniciou em uma das reuniões do grupo de mulheres do projeto de assentamento Monte Alegre I, Upanema (RN). A ideia surge em uma reunião com o Centro Feminista 08 de Março em decorrência das discussões sobre as alternativas de convivência com o semiárido, em especial as estiagens dos últimos quatro anos, haja visto a continuidade dos quintais produtivos, em que muitas mulheres cultivam frutas e hortaliças e criam pequenos animais como galinha, porco e ovelhas. Como a maioria já reutilizava a água de lavagem de roupa, louça e do banho para aguar as bananeiras, coqueiros e mamoeiros discutiu-se nesta mesma reunião a possibilidade de reutilizar a água também para as hortaliças. Mas era necessário um tratamento da água cinza para a irrigação das hortaliças. Então, o Centro Feminista procurou o Departamento de Ciências Ambientais e Tecnológicas da Universidade Rural do Semiárido (UFERSA) para disponibilizar estudantes e seus laboratórios para o experimento de um filtro para tratamento da água cinza, que mais tarde ganhou o nome de “Agua Viva”, por ser uma água que se renova e gera vida. É por isso que, para além dos laboratórios da universidade, o sistema Água Viva reconhece o saber das mulheres e as matérias primas de cada região.
Como utilizamos uma metodologia participativa em que a tecnologia social permite e estimula o reconhecimento do saber popular das mulheres como agricultoras, de modo a recuperar sua experiência de trabalho e dar visibilidade às práticas da agroecologia, o projeto se desenvolve de um lado com experimentos laboratoriais, como o teste da qualidade da água, e de outro com as experiências das mulheres sobre material disponível na comunidade, quantidade e melhor época para coletar.
Assim, os passos entre comunidade e laboratório foram:
1º) CONSTRUÇÃO DO SISTEMA DE TRATAMENTO E APROVEITAMENTO AGRÍCOLA DE ÁGUA CINZA
O sistema de aplicação é constituído por um reservatório com capacidade para 200 L situado a 2,0 m de altura do nível do solo, sistema de irrigação por gotejamento de baixa pressão e canteiro para produção agrícola. O transporte do efluente do reservatório para o sistema aplicação ocorre por meio de uma bomba manual. A estima diária de 200 L de água cinza possibilita a irrigação de um canteiro de 25 m2. A estação de reuso deve ser posicionada a pelo menos 30 m de distância da residência para minimizar problemas com odores. Entre o tanque séptico e o filtro biológico deve existir um desnível mínimo de 0,10 m para favorecer o escoamento do efluente pelo sistema.
Detalhes do sistema:
a) Caixa de passagem;
b) Tanque séptico;
c) Filtro orgânico;
d) Reservatório de armazenamento;
e) Sistema de irrigação por gotejamento.
2º) MONITORAMENTO DA QUALIDADE DA ÁGUA CINZA TRATADA PARA UTILIZAÇÃO NA IRRIGAÇÃO
Para esse monitoramento utilizou-se o Laboratório de Saneamento Ambiental do Departamento de Ciências Ambientais e Tecnológicas da UFERSA, onde foram feitos estudos da água coletada comunidade.
3º) MONITORAMENTO DO DESEMPENHO HIDRÁULICO DO SISTEMA DE IRRIGAÇÃO
Nesta fase foram analisadas a vazão média dos gotejadores e os coeficientes de variação de vazão, uniformidade de distribuição e uniformidade estatístico.
Recursos Necessários
Lista de todo o material necessário para a implantação de 01 filtro de água viva:
Especificação / Unidade / Quantidade
Tijolo cerâmico oito furos / und / 470
Cimento / sc / 6
Areia comum / m3 / 0,40
Areia lavada / m3 / 0,40
Brita n. 1 / m3 / 0,60
Vigotas / und / 8
Lajotas / und / 30
Impermeabilizante, galão 3,6 L / und / 1
Tubo PVC branco 100 mm x 6 m / und / 4
Tubo PVC branco 40 mm x 6 m / und / 3
Tubo PVC, PN 40, 32 mm x 6 m / und / 5
Tubo PVC, PN 40, 32 mm x 6 m / und / 2
Mangueira polietileno 16 mm / m / 100
Filtro de tela com abertura de 130 m / und / 1
Gotejador autocompensante, tipo botão, 2,0 L h-1 / und / 50
Fio de cobre 2,5 mm2 / m / 50
Disjuntor 10 A / und / 1
Tomada tipo macho und 1
Tomada tipo fêmea und 1
Registro de esfera de 32 mm und 1
Registro de esfera de 24 mm und 3
Redução 100 mm x 40 mm und 1
Redução 32 mm x 25 mm und 6
Luva soldável de 32 mm und 4
Luva união 32 mm und 2
Joelho de 40 mm und 8
Joelho de 32 mm und 8
Tê de 32 mm und 3
Tê de 32 mm und 4
Tê de 25 mm und 4
Conector com borracha de vedação de 16 mm und 20
Final de linha und 20
Válvula de pé com crivo de 32 mm und 1
Adaptador soldável/rosca de 32 mm und 6
Material permanente
Conjunto motobomba centrífugo de 0,5 cv und 1
Serviço de terceiros
Escavação diária 2
Construção do sistema de tratamento de água cinza diária 4
Montagem do sistema de irrigação diária 1
Resultados Alcançados
O sistema Água Viva gerou uma mudança significativa na vida, produção, auto-organização e na autonomia das mulheres que constroem alternativas de convivência com o semiárido. Com a implantação do filtro, a primeira coisa que aconteceu foi o escoamento da água usada nos afazeres de casa para a primeira caixa de passagem, reservando a água que antes ficava empoçada nos quintais de casa, podendo causar doenças para as galinhas e afetar até mesmo as pessoas, fazendo o saneamento do quintal. Com o reservatório de água direcionado para a irrigação de plantas frutíferas e hortaliças, as mulheres puderam se poupar do trabalho de buscar água em outros locais e conseguiram continuar sua produção agroecológica mesmo em períodos de forte estiagem. A produção das mulheres, que é diversificada e não utiliza agrotóxicos, possibilita segurança e soberania alimentar de suas casas como também de sua localidade, assim como fortalece a auto-organização das mulheres que juntam seus produtos para comercializar na comunidade e nas feiras municipais e articulação com a economia solidária através da Rede Xique-Xique. Dona Alvanir, uma das mulheres que faz parte da experiência avalia que “A água reaproveitada é uma bênção. Sobra mais água pros bichos, as plantas ficam mais fortes e o mais importante é que a gente não tá desperdiçando uma coisa tão cara como a água”. A tecnologia também contribui para consolidar as experiências de alternativas de convivência com o semiárido protagonizado pelas mulheres e estreitar as relações com a universidade, pois o projeto conta com professores e alunos da Universidade Federal Rural do Semiárido, que participam desde a montagem dos filtros até a análise da água para verificar suas condições para o reuso e o monitoramento e observação da produção dos canteiros.
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