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O empoderamento de mulheres e seus quintais produtivos

09 de janeiro de 2020
por Camila Maxi


A força feminina tem o poder de transformar. E com este pensamento, nasceu a metodologia “Água Viva: Mulheres e o redesenho da vida no semiárido”, que consiste no reaproveitamento da água utilizada nas atividades domésticas para a irrigação de frutas e hortaliças agroecológicas. A solução veio da união de um grupo de mulheres do assentamento Monte Alegre, devido às constantes estiagens na região. O sistema gerou uma mudança significativa na vida, produção, auto-organização e na autonomia das mulheres.

Vencedora do Prêmio Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social 2015, o empreendimento segue no caminho proposto, o do reuso da água nos quintais produtivos, uma alternativa que gera vida e renda para as famílias. Foi desenvolvida em 2013 pelo Centro Feminista 8 de Março (CF8), em parceria com a Universidade Federal Rural do Semiárido (Ufersa) e financiamento da União Europeia.

Em 2019, a iniciativa foi contemplada no edital de Reaplicação de Tecnologia Social da Fundação Banco do Brasil, que tem apoio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) por meio de investimento social de quase R$ 1 milhão. O valor possibilitará a implantação de 30 sistemas nas regiões de Mossoró, Natal, Macaíba, Ceará-Mirim, Açu, Upanema, Tibau, Apodi, Caraúbas e Governador Dix-Sept Rosado.

Aos poucos a tecnologia se aprimorou e os filtros seguintes foram construídos a partir de uma capacitação com mulheres de outros municípios. O coletivo também passou a fazer articulações para melhorar processos e ampliar para que cheguem a mais pessoas. “Conseguimos chegar a mais municípios com o Reaplica. Conquistamos maior visibilidade, o Estado lançará uma chamada pública para o reuso da água. E fomos convidadas para apresentar a experiência com as mulheres e o sistema de reutilização, é um momento de diálogo da sociedade civil com o governo e de pautar a necessidade do reaproveitamento dentro da politica pública”, conta Rejane Medeiros, coordenadora do projeto.

Para algumas mulheres, o acesso à água é limitado, e ainda sim conseguem regar algumas plantas e hortaliças para o consumo. “Uma das nossas participantes está ansiosa para a implantação. Quando visitamos seu quintal, ela contou que o marido reclamava porque a água era muito restrita, por isso não deveria regar as plantas medicinais. Mas ciente da importância das ervas, ela insiste. São experiências que quando vivenciamos percebemos que a pessoa faz milagre com a água”, destaca.

A iniciativa continua inspirando em sua região e conquistando também reflexos acadêmicos com teses e trabalhos sobre reuso de água e a tecnologia usada, além de participarem de congressos e encontros para discutir novas ideias. “Temos momentos de trocas de experiências em reuso de água, nos articulamos para além do lugar em que estamos e também discutimos dificuldades enfrentadas na implementação da tecnologia social para fortalecer e vencer preconceitos” comenta Rejane.


Matéria original publicada em 08/01/2020 no Portal da FBB.

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