Problema Solucionado
A exclusão de alguns grupos sociais ainda é nítida no Brasil. Ressaltamos aqui dois grupos de pessoas que, muitas vezes são excluídos: as pessoas com deficiência visual e os presos. Partindo desse problema, nasceu a ideia do projeto ora apresentado, que pretende contribuir para a inclusão de ambos os grupos. Através da utilização da mão de obra dos internos da Penitenciária Estadual de Maringá, produzem-se materiais didáticos e livros literários para pessoas com deficiência visual atendidas pelo Centro de Apoio Pedagógico para Atendimento às Pessoas com Deficiência Visual de Maringá (CAP). Foi equipado um ambiente da penitenciária para o trabalho. Através dele, conseguimos ajudar em dois problemas: a) ressocialização e a qualificação do preso para o mercado de trabalho; e, b) o acesso à literatura para as crianças com deficiência visual, contribuindo também para o acesso dessas pessoas no mercado de trabalho.
O projeto Visão de Liberdade é, portanto, um modelo na busca da solução de um grande problema social, a inclusão de dois grupos que comumente ficam à margem da sociedade: o preso e a pessoa com deficiência visual.
Descrição
1. Atividades desenvolvidas: tem como foco principal a ressocialização do preso. Além disso, o Centro de Apoio Pedagógico para Atendimento às Pessoas com Deficiência Visual (CAP) de Maringá, em sua proposta de oferecer subsídios ao sistema de ensino e com objetivo de ampliar a oferta de material em Braille inclusive adaptado para os educandos com deficiência visual inseridos no ensino regular, tem buscado formas de atender à grande demanda de materiais didáticos e livros literários para esse público.
A fim de atender aos objetivos e às diretrizes estabelecidas na Política Nacional de Educação Especial, no que se refere ao atendimento das necessidades educativas especiais das pessoas com deficiência visual em sua dimensão não só educativa, mas também sócio-cultural, o projeto estabeleceu-se. Foi motivado também pelas necessidades do preso, que necessita estar em uma constante reinserção à sociedade. Assim, a tecnologia social desenvolve o seguinte trabalho (em parceria com o CAP e a Penitenciária Estadual de Maringá):
-Digitação de livros paradidáticos;
-Gravação de livros falados;
-Confecção de matrizes em relevo, maquetes e equipamentos pré-bengalas.
Os presos não recebem pelas horas trabalhadas, mas são beneficiados pela remissão de pena por dia/hora trabalhados.
Para a realização do trabalho, a primeira fase é a seleção dos internos e esta seleção é feita pela Administração e Assistência Social da Penitenciária Estadual de Maringá. Depois de selecionados, os internos passam por capacitação de acordo com o setor do projeto em que irão ingressar;
2. Digitação do material: antes de iniciar o trabalho, os internos passam pela capacitação:
-Noções Básicas do Sistema Braille;
-Capacitação com o software Braille Fácil;
Depois dessa etapa, inicia-se o trabalho que passa pelas seguintes fases:
-Encaminhamento dos livros pelo CAP;
-Digitação no software Braille Fácil;
- Primeira revisão realizada pelos digitadores;
-Encaminhamento do arquivo para o CAP.
Ao chegar no CAP, é feita uma nova revisão por professores especialistas de impressão em Braille, outra revisão realizada por um revisor cego, última impressão, encadernação e envio para os alunos;
3. Livro falado: para o trabalho do livro falado ou áudio-livro, selecionam-se os internos e realiza-se uma capacitação (inclusive já foi oferecido curso de locução). O interno, além de ter uma boa voz para a gravação, clara, com uma dicção perfeita, tem que conhecer os programas que irá utilizar no processo de gravação e edição do livro. Após esse período, inicia-se o trabalho propriamente dito, contando com as seguintes etapas:
-Seleção dos livros pelo CAP;
-Gravação de todo o livro;
-Edição de sons e vozes;
-Gravação em CD para revisão;
-Revisão realizada no CAP por um funcionário cego;
-Correções (caso haja necessidade);
-Reprodução das 150 cópias;
-Impressão de etiquetas;
-Marcação em Braille das etiquetas;
-Etiquetagem, endereçamento e encaminhamento via cecograma para os diversos locais;
4. Matrizes em relevo, maquetes e equipamentos pré-bengala:
Como nos outros setores, neste também, após a seleção dos internos, é realizada a capacitação.
-Encaminhamento dos modelos mapas, desenhos, gráficos, brinquedos, maquetes etc,;
-Produção de um modelo/matriz;
-Reprodução de acordo com o número solicitado;
-Encadernação/empacotamento e distribuição.
Todo material produzido é encaminhados para mais de 190 cidades espalhadas por todo o Brasil e, também, para Portugal.
Recursos Necessários
Para implantação de uma unidade da tecnologia social desenvolvida no projeto Visão de Liberdade, podemos relacionar como materiais básicos:
-Computadores completos com software para gravação e desenvolvimento do material em Braile;
-Estúdios de gravação equipados com microfones e rádios;
-Suprimentos para informática: tintas especiais para máquinas de impressão em braile, cartuchos, tonner, papel sulfite, formulários contínuos;
-Cds para reprodução dos livros falados;
-Móveis de escritório: mesas para computadores, cadeiras, mesas para realização das atividades artesanais;
-Materiais de livraria e artesanato: barbantes, tintas, linhas, pedrarias, cola branca e colorida, lantejoulas e demais materiais necessários para confecção de maquetes, canetas, cola quente, pistolas de cola quente, papéis variados, perfuradores e muitos outros materiais;
-Ventiladores;
-Impressoras para impressão em braile;
-Impressoras;
-Televisão;
Todos os equipamentos relacionados acima têm quantidade definida pela demanda de material.
Resultados Alcançados
Nesse curto tempo de existência do projeto, podemos ressaltar alguns resultados obtidos:
-Produção de materiais específicos, favorecendo a inclusão do aluno deficiente visual bem como de seu professor;
-Inclusão do interno em uma atividade educacional/escolar;
-Maior consciência do interno em relação à educação especial e ao processo de inclusão educacional;
-Maior consciência do deficiente visual em relação á condição do interno;
-Formação profissional do interno;
-Remissão de pena por dias trabalhados.
O trabalho realizado busca uma dualidade de liberdades: a do cego pela educação e a dos presos pela possibilidade de exercitarem a cidadania. Todo o trabalho produzido é encaminhado aos alunos deficientes visuais dos 134 municípios sob a jurisdição do CAP-Maringá, exceção feita aos livros falados que, de cada original, são reproduzidas 150 cópias e distribuídas a todo Brasil e também enviado a Portugal. O material produzido através desse projeto é distribuído para 134 municípios do estado do Paraná, 42 municípios entre os estados de São Paulo, Rondônia, Pará, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro, Piauí, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e muitos outros. Além disso, o material produzido pelo projeto também é encaminhado para a Biblioteca de Lisboa-Portugal.
Desde 2004, na penitenciária, foram produzidos 25.305 trabalhos de material didático em relevo e digitados 338 livros e apostilas diversas. De dezembro de 2005 a abril de 2011, foram gravados 90 livros falados com tiragem de 150 cópias cada e mais 16 apostilas, enviados para todo o Brasil e para uma biblioteca pública da cidade de Sobreda, em Portugal.
Os presos envolvidos no projeto são beneficiados pela redução da pena em um dia para cada três dias trabalhados bem como recebem o pecúlio pelo trabalho realizado. Esse projeto vem reafirmar a importância dessa parceria que, além de oportunizar aos educandos acesso às diversas literaturas e ao aprimoramento de habilidades táteis para a compreensão do desenho em relevo, proporciona também a inclusão social dos internos da Penitenciária Estadual de Maringá que encontram nessa atividade o fortalecimento de sua auto-estima, restituindo-lhes a cidadania com dignidade e respeito.
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