Problema Solucionado
Conforme dados do UNICEF, é na adolescência que problemas e iniquidades sociais se tornam mais evidentes. Faltam, porém, espaços e estratégias educativas que preparem as crianças e adolescentes para a vida adulta numa sociedade complexa e em constante transformação, com reconhecimento de seu valor, interesses e capacidade de participação. Em avaliações feitas entre 1999 e 2002, adolescentes do Programa de Voluntariado na Escola da Parceiros Voluntários manifestavam desejo de realizar mais, contribuindo com ideias para solucionar problemas comunitários. No entanto, mostravam-se descontextualizados, sem saber por onde começar, por terem pouca informação sobre os problemas sociais, ou por vivenciá-los sem perceber possibilidades de ação. Sentiam-se limitados e pediam orientação. Ao identificar a lacuna, e compreendendo que a educação pela solidariedade provoca mudanças de atitude diante da vida e dos fatores de risco do cotidiano, buscou-se promover uma nova forma de relacionamento dos adolescentes com o entorno sociocomunitário em que pudessem se afirmar como parte da solução e não do problema, com responsabilidade e liberdade de escolha, para vivenciar cidadania como participação social, cultural e política.
Descrição
A metodologia resultou de um processo educativo iniciado em escolas públicas e privadas do Rio Grande do Sul a partir de 1999. Para ouvir e melhor conhecer as expectativas e ideias dos adolescentes engajados em ações voluntárias, a ONG Parceiros Voluntários promoveu, em conjunto com a rede escolar, três grandes encontros de voluntariado juvenil. Assim foi possível desenhar uma proposta na qual os jovens fossem ao mesmo tempo autores e protagonistas, corresponsáveis pela criação e o desenvolvimento.
Para iniciar a Ação, o primeiro passo é formar a TRIBO e escolher um nome. O segundo é optar por uma TRILHA: Educação para a Paz, Meio Ambiente ou Cultura (os três temas de maior interesse apontados pelos adolescentes) e indicar um representante para ser o Líder. Terceiro: escolher um adulto de referência – professor, familiar, amigo ou alguém disposto a orientar os Tribeiros quando necessário. O importante é que o adulto tenha afinidade com o grupo, atitude colaborativa, disponibilidade e preocupação social. Uma fonte complementar de apoio é o Conselho Tribal, que pode ser formado por representantes de organizações sociais, poderes públicos, empresas e outras instituições, escolhidos pelos Tribeiros, e que se disponham a colaborar nas articulações comunitárias. Feito isso, é hora de planejar as atividades da Trilha (no mínimo quatro ações diferentes ao ano).
Etapas de implementação da Tecnologia Social:
1. Adesão à Tribo (não há limite para o número de integrantes);
2. Planejamento das ações e encontros colaborativos;
3. Execução e documentação das atividades;
4. Compartilhamento e avaliação de resultados.
Os Diários Tribais são importantes instrumentos de registro e documentação das atividades da Tribo, e podem ser impressos, em arquivo digital ou redes sociais, dependendo dos recursos disponíveis.
A rede escolar é um ambiente fértil para o desenvolvimento da TS, mas a Ação Tribos também pode ser desenvolvida a partir de um clube, associação ou instituição social estruturada que oportunize a construção de identidades juvenis afirmativas. No Rio Grande do Sul, as Unidades da Rede Parceiros Voluntários promovem mobilização e articulação com as escolas e os veículos de comunicação, atuando como pontos de referência e apoio.
Para dar visibilidade às ações, promover formação, celebração de resultados e coletivização, é organizado o Fórum Tribal, um encontro municipal ou regional que amplia a colaboração voluntária.
Após a primeira edição de Tribos, foram consultados Tribeiros, familiares e educadores com o objetivo de avaliar, aperfeiçoar a metodologia e publicar os resultados em livro. Reconhecendo que os adolescentes têm muito a dizer, realizou-se parceria com o Núcleo de Integração Universidade Escola da UFRGS, com o objetivo de aprofundar estudos sobre pressupostos da formação das juventudes e sua participação social. A partir da pesquisa, foi possível identificar os motivos que os engajam em ações solidárias e estimulam a empreender atividades sociais que elevam sua autoestima, com autoria e autonomia.
Considerando que fortalecer lideranças é fator estratégico para enfrentar desafios e afirmar os adolescentes como cidadãos ativos, foi criado o módulo de capacitação Desenvolvendo Tribeiros (08 horas/aula), como atividade complementar. Os conteúdos incluem processos interpessoais e intergrupais, voluntariado, empreendedorismo social, mobilização, planejamento e avaliação de projetos, buscando desenvolver competências que ampliem a compreensão do adolescente sobre como ele pode transformar a realidade a partir de suas práticas e vivências.
No site constam a proposta, o regulamento, respostas às perguntas mais frequentes, dicas, notícias, depoimentos, fotos e vídeos, bem como o formulário para inscrições.
Recursos Necessários
Considerando que a formação de uma Tribo e seu engajamento na proposta da Tecnologia Social é um ato voluntário, de iniciativa das crianças e adolescentes, a princípio todos os recursos materiais necessários podem ser obtidos em acordos de parceria com instituições das comunidades. Este é um desafio para que os adolescentes experimentem suas capacidades de articulação para mobilizar e captar recursos que viabilizem seus projetos sociais. Um computador com acesso à Internet é o instrumento principal para que os interessados conheçam todos os detalhes da Ação e possam optar por sua integração à Rede já existente. A Internet é também fonte privilegiada para pesquisa e contatos na etapa de planejamento das atividades, portanto o software essencial é o navegador, assim como os programas que possibilitam envio e recebimento de mensagens (e-mails ou redes sociais de acesso gratuito). No desenvolvimento das atividades, os recursos necessários dependerão da natureza da Trilha escolhida e das ações propostas pelos adolescentes. O transporte para deslocamentos e os materiais para documentação das atividades (em meio impresso ou eletrônico) em geral são facilitados pelas instituições apoiadoras. É recomendável dispor de telefone celular para registro e divulgação das ações, em articulação com os veículos de comunicação locais e redes sociais.
Resultados Alcançados
Aos 10 anos da TS Tribos nas Trilhas da Cidadania, foi realizada uma pesquisa pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (FLACSO) com apoio do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). A amostra alcançou 11 cidades do Rio Grande do Sul, 30 escolas e 656 estudantes com idade média de 12,96 anos.
O projeto fideliza os participantes, em média 14,1 meses para crianças e 12,5 meses para adolescentes.
Foram identificadas pontuações altas para a percepção positiva dos tribeiros sobre os resultados da Ação na sua vida.
As famílias dos tribeiros destacam a mudança positiva nas atitudes dos filhos estudantes. Há maior envolvimento do aluno e satisfação com a escola, favorecendo novas amizades, desinibição, maior autoconfiança, mais responsabilidade com atividades escolares, melhor uso do tempo e desenvolvimento de habilidades em realizar metas.
Houve aumento do conhecimento do aluno sobre a comunidade e para aqueles que permanecem mais no programa, a percepção de que seu papel na comunidade é importante.
Os tribeiros destacam na pesquisa, entre as coisas importantes que aprenderam, foram trabalho e convivência em grupo, valores pessoais. Como pontos positivos destacaram o exercício da colaboração/cooperação e a aprendizagem.
Os professores participantes do programa melhoram suas práticas educacionais de participação. O programa gera impacto nas relações da comunidade escolar, com engajamento de mais professores, especialmente quando os projetos têm apoio da direção e são implementados de forma continuada.
Os tribeiros apresentam diferenças significativas quanto a menor frequência de comportamentos agressivos em comparação com os não tribeiros.
A experiência do voluntariado de crianças e adolescentes promove três ganhos básicos:
• Fomenta a ruptura com a cultura adultocêntrica, em que crianças e adolescentes são objetos da tutela dos adultos e beneficiários de suas ações;
• Garante maior visibilidade pública positiva aos seus direitos;
• Favorece o desenvolvimento pessoal e a proteção de crianças e adolescentes, pois melhora o nível de autoestima, cria autonomia, promove o domínio de habilidades sociais e capacidades de expressão de sentimentos e ideias.
Resultados quantitativos mais contundentes em 2018:
15.000 Tribeiros participantes, 510 escolas participantes; 92 cidades; 2008 ações realizadas/ano.
Resultados quantitativos ao longo dos 15 anos da execução da TS Tribos nas Trilhas da Cidadania:
155.300 Tribeiros participantes, 2.662 escolas participantes; 110 cidades; 5.648 jovens qualificados; 3.410 educadores qualificados
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