Objetivo
O objetivo é a capacitação de artesãos para produção qualificada de réplicas artesanais, implicando em melhoria de suas rendas e na ampliação do potencial educativo do patrimônio arqueológico com o uso de réplicas. Propõe-se um programa colaborativo que alia a divulgação do acervo arqueológico do Museu Goeldi à revitalização do artesanato cerâmico da comunidade oleira do Paracuri (Icoaraci/Belém).
Problema Solucionado
A atividade cerâmica no Paracuri, além de ter sido no passado o ofício dominante da localidade, e de continuar exercendo um papel fundamental na atividade econômica do bairro, moldou a identidade cultural desta comunidade, gerando uma influência cultural que ultrapassa os limites das olarias e se incorpora ao cotidiano da população.
Apesar da cerâmica ser um atrativo turístico e fonte de geração de renda, a demanda do mercado tem diminuído, afetando diretamente a população que depende de seu comércio. As oficinas em funcionamento vivenciam precariedade em termos de estrutura de trabalho, escassez de mão de obra e dificuldade de escoamento de produção. Hoje os mestres estão em idade avançada, dificultando a transmissão deste conhecimento tradicional, já que muitos jovens icoaracienses não têm interesse em dar continuidade ao ofício familiar.
É neste contexto que a proposta do “Replicando o Passado” vem atraindo ceramistas do Paracuri para dentro do Museu Goeldi, para a produção qualificada de réplicas artesanais do acervo, criando um novo segmento ao ofício ceramista da localidade, além de valorizar e trazer maior visibilidade para comercialização de seus produtos.
Descrição
O Museu Goeldi possui uma longa trajetória de parceria com ceramistas de Icoaraci, iniciando com o Mestre Raimundo Cardoso nos anos 1960, que ficou mundialmente conhecido por seu trabalho com réplicas arqueológicas. Sua esposa, Inês Cardoso, também colaborou com o Museu produzindo réplicas de instrumentos musicais. Contudo, o acesso à comunidade mais ampla de ceramistas, ainda era restrito. O projeto Replicando o Passado iniciou em 2016 a partir de uma demanda dos próprios ceramistas de Icoaraci, para conhecerem as coleções arqueológicas salvaguardadas no Museu Goeldi, pois já faziam peças inspiradas nas cerâmicas arqueológicas, mas não conheciam as peças pessoalmente, apenas a partir de fotos de revistas, catálogos etc. A metodologia de trabalho foi desenvolvida de forma orgânica e colaborativa entre os pesquisadores da arqueologia e os ceramistas. São realizadas sessões regulares de trabalho e discussões semanais que incluem os seguintes procedimentos:
● Seminários e palestras sobre cerâmicas arqueológicas na Amazônia, definições e usos de réplicas em museus:
A apresentação do acervo arqueológico aos ceramistas é feita de modo a contemplar o conhecimento das pesquisas arqueológicas sobre as principais culturas representadas no acervo cerâmico do Museu. Nesta apresentação dos contextos arqueológicos damos importância particular ao que se conhece sobre as técnicas de confecção, assim como sobre os estudos iconográficos, os princípios estéticos que norteavam a produção cerâmica em cada cultura e seus significados simbólicos. Os seminários incluem ainda a discussão do conceito de réplicas e dos critérios de reprodução, de forma a se estabelecer um grupo de artesãos que atua juntamente com a equipe curatorial do museu na escolha das peças a serem reproduzidas.
● Seleção das peças a serem replicadas, considerando a relevância arqueológica e histórica da peça, valor didático, estética, dificuldade de replicação, e mercado:
As peças reproduzidas contemplam ícones da arqueologia amazônica, tanto pelo contexto em que foram encontradas como pela história da própria pesquisa arqueológica no Museu Goeldi. Pesam na escolha também a complexidade tecnológica e a estética de cada peça. A seleção inicial cobriu a variedade de culturas arqueológicas representadas no acervo, sendo que muitas delas já constavam no repertório de ceramistas e eram reproduzidas de forma mais ou menos fidedignas.
• Definição de critérios para a produção das réplicas:
É feita a escolha sobre o estado em que as peças arqueológicas são reproduzidas: se como foram encontradas no sítio arqueológico, por vezes fragmentadas e erodidas, se como foram feitas originalmente, exigindo a reconstrução do projeto original, nem sempre possível devido a partes faltantes, ou se como se encontram hoje na reserva, às vezes restauradas e reconstruídas.
• Estudo e confecção das réplicas com observação direta das peças originais no Museu Goeldi;
Aspectos relativos às técnicas, matérias-primas, dimensões, formas, texturas, acabamentos, e coloração das peças arqueológicas são estudados de modo a gerar réplicas com o máximo de semelhança com as peças originais. A reprodução segue as técnicas usadas nas peças originais, como o tratamento da argila com a adição de cerâmica moída, a montagem das vasilhas por roletes, a decoração tradicional com engobo, pinturas, incisões, excisões e apliques, combinados de forma variada segundo cada estilo. Contudo, as réplicas carregam as habilidades e os gestos artísticos individuais de cada artesão (diferindo de réplicas feitas por escaneamento 3D). Isso faz com que a expertise de cada ceramista seja valorizada. A escolha por reproduções artesanais reafirma um objetivo importante do projeto, o de estimular o artesanato cerâmico contemporâneo inspirado nas cerâmicas arqueológicas.
• Avaliação das réplicas e marcação das peças aprovadas:
Uma vez prontas as réplicas passam por sessões de avaliação, onde ao lado das originais são comparadas em vários aspectos, como as dimensões e proporções, texturas e colorações; também são identificadas as principais dificuldades e proposições de como superá-las. As avaliações das réplicas são documentadas por meio de fichas específicas. Apenas as peças aprovadas podem ser veiculadas em ações educativas, expostas e vendidas como peças do projeto Replicando o Passado. Todas as reproduções aprovadas são marcadas de forma permanente, com carimbo do projeto, indicando de que não se trata da peça original. Cada peça recebe uma numeração específica que permite rastrear sua destinação (coleção didática, vendas para outros museus, vendas em eventos etc.)
● Apresentação dos produtos para a venda (embalagens e etiquetas) e critérios para comercialização:
Etiquetas e folhetos contando sobre as peças e o projeto foram escritos pela curadoria do Museu a partir da discussão e aprovação dos ceramistas. A identidade visual do projeto aplicada nestas mídias utiliza a imagem de uma peça icônica do Museu, coletada pelo próprio Emílio Goeldi em 1895, uma das primeiras coleções arqueológicas a serem constituídas no museu.
● Incorporação das coleções didáticas em ações de educação patrimonial:
O uso das réplicas permite o fácil deslocamento para escolas, exposições e eventos, preservando as peças originais e ampliando o alcance público e acessibilidade, na medida em que as réplicas podem ser tocadas.
Recursos Necessários
O projeto prevê acesso dos artesãos à coleção arqueológica com peças originais, sobre as quais se dão as palestras e oficinas. É necessário, portanto, que a implementação de uma nova unidade dessa tecnologia social se dê em locais onde este acesso é possível. Na Amazônia, além dos museus, há uma enorme quantidade de coleções arqueológicas distribuídas em casas de cultura, escolas, ou até mesmo em residências de moradores do entorno de sítios arqueológicos. A nova unidade de TS deve, necessariamente, nascer em um local onde há o desejo por parte dos moradores de valorizar o patrimônio cultural local e incrementar a renda por meio do artesanato cerâmico. Já iniciamos a implementação em Gurupá e em Santarém, com muito interesse por parte das comunidades.
É necessário ainda um espaço para as reuniões de trabalho com possibilidade de projeção de imagens e vídeos para as palestras e oficinas; bancadas, argila, pigmentos e instrumentos para a confecção das peças, sempre ao lado das originais. Construção de forno para a queima. Acesso à gráfica para a impressão das etiquetas, folders e materiais informativos que acompanham as réplicas. Produção de carimbo para marcação das réplicas, e de materiais para embalagens e apresentação dos produtos para venda. Por fim, é importante que se criem, por meio de eventos, exposições, formas de divulgação do trabalho e apresentação dos produtos para venda e ações educativas.
Resultados Alcançados
“Replicando o Passado”, valoriza as biografias dos artesãos e da comunidade do Paracuri, das peças reproduzidas e culturas arqueológicas da Amazônia. Apresenta as cerâmicas arqueológicas com linguagens acessíveis, inclusive táteis, a um público amplo e inclusivo (PCDs). Assim, expande os diálogos em torno do patrimônio arqueológico da Amazônia e o potencial educacional das réplicas artesanais. Com as réplicas artesanais, a arqueologia amazônica alcançou lugar em todo o mundo, como na Coréia do Sul, Estados Unidos, museus em São Paulo e no Paraná. Com as diversas ações, sensibilizamos diferentes públicos quanto à preservação e revitalização – do patrimônio cultural e arqueológico da Amazônia.
Além da produção de duas coleções iniciais – uma coleção didática para o museu e outra de referência para o Paracuri, com 21 peças cada uma, das culturas Marajoara, Santarém, Aristé e Maracá, a venda das peças – sobretudo de miniaturas – vem auxiliando em sua renda familiar e, por conseguinte, na manutenção e estímulo ao ofício oleiro daquela localidade. As réplicas são vendidas e o recurso vai integralmente aos ceramistas do projeto. Segundo os ceramistas, sua renda aumentou entre 30 e 100% depois do início do projeto.
Mais de 30 ceramistas já frequentaram o Museu Goeldi em visitas à reserva técnica, cursos, palestras e atividades de reprodução em cerâmica. Atualmente o projeto conta com a participação regular certificada de seis ceramistas, dentre os quais uma pessoa não era ceramista antes do projeto. Esta certificação abriu oportunidade e participação em eventos, tanto em Belém como em outras cidades do país e exterior (exposições e feiras de artesanato); alguns inauguraram em suas lojas e oficinas um novo segmento de peças artesanais que são réplicas do acervo do Museu Goeldi, gerando mais renda e visibilidade do seu trabalho e produtos em geral. Houve também a ampliação no atendimento a outras comunidades ceramistas, como em Santarém, Gurupá e Icoaraci (Pará) com o treinamento e trocas com ceramistas destes locais. Oficinas também foram ministradas no Museu para o grande público, e em escolas em Belém.
O grupo produz coleções para comercialização para diversas instituições em diferentes localidades como: Coréia do Sul (2019), Congresso da Sociedade de Arqueologia Brasileira (2017), Belém +30 (2018), Museu Paranaense (2019), Loja do Museu Goeldi (2017-2020), MASP (2022-2023), Fórum de Acervos da Sociedade de Arqueologia Brasileira (2019, 2022), Canaã dos Carajás e Parauapebas (2022), Itamaraty (2022-2023), Nova York (2019, 2023). Ainda, foram convidados para eventos em Brasília (Semana Nacional de Ciência e Tecnologia e Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência - 2022 ), Belém (Belém+30 – 2018, Diálogos Amazônicos-2023, Museu de Portas Abertas-2018-2023, Preamar do Patrimônio-2023), entre outros.
As exposições das quais peças do projeto já participaram foram: Postado (2019), Replicando o Passado (2021), Diversidades (2022), Origens: Amazônia Cultivada (2022), Deep Marajó (2023), Estação Cultural de Icoaraci (2023). Importante salientar os empréstimos de réplicas para oficinas e feiras de ciências em diversas escolas em Belém (públicas e particulares).
Em termos quantitativos, os resultados alcançados pelo projeto são:
- Coleções produzidas:12
- Oficinas para capacitação de ceramistas fora do projeto: 4 (Gurupá, Icoaraci, Santarém, São Gabriel da Cachoeira) com estimativa de 40 pessoas atendidas
- Oficinas de cerâmicas com foco em Educação Patrimonial: 10 com estimativa de 200 pessoas atendidas
- Viagens dos ceramistas para eventos: 6
- Percentual de aumento de renda: 30 a 100%
- Participação em eventos: 10
- Público escolar atendido: 100
- Público PCD atendido: 15
- Exposições: 6, com estimativa de público de mais de 1000 pessoas
- Palestras e lives: mais de 30
Público atendido
Alunos do ensino fundamental
Alunos do ensino medio
População em geral
Artesaos
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