Problema Solucionado
Estudos interdisciplinares e imprensa apontam adolescentes descontextualizados. Falta de espaços para expressão criativa/solidária de adolescentes com potencial para protagonizar ações em diferentes ambientes sociais e para concretizar cidadania numa visão humanista, o que torna desafiadora sua vivência/convivência no contexto social. Faltam mecanismos de segurança físico/moral e espaços sociais de afirmação e inserção. Educadores, famílias e instituições sociais têm parcial consciência desses fatos complexos e expressam dificuldade de agir como mediadores entre realidades sociais externas e potencialidades dos adolescentes como agentes de mudança. Certas propostas educativas evidenciam abismos entre práticas atuais e práticas educativas carentes de tecnologias assertivas, o que requer uma contribuição diferenciada aos educadores. Os adolescentes, sem o reconhecimento do que podem realizar, sem estímulos educativos adequados ao voluntariado, solidariedade, criatividade e interação, constroem concepções e valores distantes do requerido pelo mundo atual: caracterizado por múltiplas interações, conhecimentos e tecnologias, e distantes do apresentado por instituições sociais.
Descrição
A partir dos problemas identificados, buscou-se desenvolver um jeito de PENSAR a educação de adolescentes para a participação social pela explicitação de conceitos orientadores: juventudes e participação social solidária/voluntária, e de AGIR construindo estratégias educativas flexíveis e reproduzíveis por escolas ou outras instituições sociais. Partiu-se do pressuposto de que tais instituições influenciam escolhas na formação de crenças e valores do adolescente, como agente mobilizador e articulador que interage com a sociedade, desde que possuam: propósitos definidos e voltados ao desenvolvimento humano; estruturas que valorizem a formação e a educação continuada; e atores interessados em participar da formação juvenil.
Com o auxílio do Núcleo de Integração Universidade e Escola da UFRGS, foi realizada pesquisa sobre percepções do adolescente relativas às suas condições e expectativas, o que viabilizou a construção da proposta formativa complementar para educadores de Educação Básica. Assim, o Curso de 60 horas/aula (40h presenciais e 20h à distância) propõe formas dinâmicas de integrar as Diretrizes Curriculares Nacionais com valores e participação ativa na solução de problemas sociais, que são compatíveis com a condição do adolescente. A fundamentação e as dinâmicas estão consolidadas em um Guia de Ações, que propicia aos educadores e instituições o reconhecimento da legitimidade das culturas juvenis e dos adolescentes como interlocutores dotados de capacidade de ação e autonomia, condições imprescindíveis à educação e à construção de novas bases para o relacionamento social, fundadas na solidariedade, nos valores da paz e do diálogo.
O Curso oportuniza ao educador pensar sobre si mesmo, sua ação educativa, sua interação com o adolescente, a fim de se constituir como adulto de referência, aberto a aprender continuamente, sendo respeitado pelo modo como conduz à construção do conhecimento e por sua atuação na vida social. Possibilita também a construção de pesquisas, projetos, assim como a visão e a oportunidade de realizar ações voltadas para mudanças, ou seja, de apropriar-se de conhecimentos e compartilhar aprendizagens com integrantes do seu grupo, para multiplicá-los no ambiente escolar e comunitário, com participação juvenil e criação de redes solidárias.
A proposta centra-se na concepção de que o educador para participação social é quem compreende os adolescentes como sujeitos de sua história e cultura, que sabem e produzem saberes diversos a respeito de si e dos outros. Nas 40 horas/aula do Curso são desenvolvidas atividades inerentes aos eixos temáticos abaixo, sendo 16h presenciais e 24h à distância (para estudos complementares):
I – Desenvolvimento do Potencial Humano: 1h
II – Cenário Educacional: 1h
III – Juventudes, Participação Social Solidária e Voluntária: 2h
IV – Proposta Educativa e Estratégias para Mobilização Juvenil: 4h
V – Estratégias para mobilização infanto-juvenil – 4h
VI – Planejamento: 4h
Os princípios orientadores para a prática de formação social de adolescentes são:
- Exercício de cidadania, que supõe situações de prática voluntária, com base na solidariedade, pelas quais o adolescente aprende a participar, vivenciando experiências efetivas e valorizando o presente com responsabilidade no agir;
- Consolidação da cultura de participação social solidária, para o fortalecimento da autonomia do adolescente, assegurando-lhe autoria e visibilidade no processo de proposição, gestão, execução e avaliação das ações realizadas;
- Valorização de diferentes linguagens, culturas, expressões e competências juvenis, que contribuem no engajamento e produção de novas formas de participação social;
- Participação social solidária e voluntária, que viabiliza a construção de espaços de aprendizagens sociais, de intergeracionalidade e cooperação sociocultural, como elementos imprescindíveis para o projeto de vida do adolescente, - mobilização, em busca de aproximações entre os objetivos da ação coletiva e as necessidades afetivas, comunicativas e de solidariedade de cada um na vida cotidiana.
Recursos Necessários
Materiais fundamentais: Guia de Ações (documento básico de desenvolvimento da proposta educativa) e Planos de Aula com orientações para o Mediador.
Materiais de apoio: fichas de cadastro dos participantes do curso, crachás, fichas de avaliação, certificados e materiais de apoio indicados no Plano de Aula para desenvolvimento dos encontros.
Espaço ambientado para realização das práticas indicadas no Plano de Aula, compatível com o número de participantes.
Resultados Alcançados
As avaliações dos educadores participantes e os depoimentos indicam que o Curso proporcionou: quebra de paradigma, ou seja, um novo jeito de pensar e agir na educação de adolescentes para a participação social, com descoberta de possíveis caminhos a seguir; revisão de práticas e propostas educativas tradicionalmente realizadas; reconhecimento da possibilidade de desenvolver temas transversais, conforme os Parâmetros Curriculares Nacionais, quanto ao preparo de jovens para uma cidadania consciente e responsável; possibilidade de aquisição de competências essenciais de mobilização, articulação, formação de pessoas e organizações, e estímulo à formação de redes; abertura da escola para maior interação com os integrantes da comunidade em que está inserida. Nesse sentido, foi expressivo o interesse que o Curso gerou, não apenas entre professores, mas também entre integrantes das instituições escolares envolvidas, como orientadores educacionais, funcionários e familiares de alunos, que manifestaram desejo de aprender a lidar com os adolescentes de uma outra forma. Em 2018, o Curso beneficiou 210 educadores de Educação Básica.
As manifestações de descoberta dos educadores participantes e seu engajamento junto aos adolescentes, em ações de voluntariado, permitem inferir a possibilidade de estender a proposta da Tecnologia Social a outras instituições sociais. Segundo uma educadora de Giruá, no Rio Grande do Sul: “O Curso destaca o papel que o educador precisa desenvolver em sua comunidade, ultrapassando as barreiras dos conteúdos programáticos. Projeta o educador como um líder positivo de transformação da sociedade para um mundo melhor, agregando à educação tradicional valores como o pensar crítico, que resulta em práticas coerentes, permitindo que o indivíduo se perceba como agente transformador. Ao desenvolver os temas transversais propostos pela LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação), por meio de atitudes voluntárias baseadas em valores éticos, sentimo-nos responsáveis por nossos atos e adquirimos consciência do nosso dever, de forma que nossas ações e comportamentos contribuam para o bem-estar e desenvolvimento sustentável de toda a sociedade”.
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