Problema Solucionado
Em 1997, por meio de um diagnóstico realizado em comunidades do Vale do Jequitinhonha, foram evidenciadas situações como: degradação da cultura local em consequência da manifestação imposta pela indústria do consumo e pelos meios de comunicação como efeitos da globalização; enfraquecimento do vínculo afetivo familiar e comunitário; desvalorização do brincar no desenvolvimento infantil; dificuldades socioeconômicas; restritas opções de lazer. Valores estranhos à realidade das comunidades estavam substituindo antigos costumes e tradições. E quando um grupo, uma comunidade, perde seu único bem, ou seja, suas referências culturais, sua identidade, também perde o sentido da vida, sua força, e passa a viver à sombra do passado ou como caricatura de outras culturas. Contudo, quando as pessoas se reconhecem e descobrem o valor de sua própria cultura, elas são movidas ao encontro e ao trabalho coletivo para a melhoria e a transformação de sua comunidade, ao mesmo tempo que crescem individualmente com o fortalecimento da alegria, da confiança e autoestima.
Descrição
A proposta se firmou em criar mais que um espaço estruturado ao brincar, mas que contemplasse o acesso à cultura local e regional em suas variadas formas de expressão; o direito à convivência familiar e comunitária, ou seja, um ambiente que facilitasse a aproximação das pessoas, a valorização do seu saber e das tradições de sua comunidade. O processo de implantação é composto por etapas, tais como: Diagnóstico e escolha da localidade; encontros com moradores da Comunidade; planejamento; definição do espaço físico; organização do espaço físico interno e externo; aquisição de acervo e mobília necessários ao desenvolvimento das ações; seleção do Brincante; inauguração; estrutura de funcionamento; acompanhamento e monitoramento. Para a implantação da Casinha de Cultura e realização das atividades é fundamental uma parceria real com a comunidade, respeitando e valorizando a força e a beleza das culturas originais. Á medida que as pessoas percebem e valorizam a sua maneira de ser, uma grande transformação se inicia, elas descobrem que o seu lugar é especial, que há potencialidades que podem ser utilizadas para o bem comum e promover uma transformação positiva e a melhoria de condições de vida de sua comunidade recuperando a autoestima e a alegria. O espaço interno e externo da Casinha é preparado para receber um público diversificado, de crianças a adultos. Brincadeiras e construção de brinquedos acontecem com o objetivo de incentivar o espírito criativo e construtor dos meninos, meninas e adultos, respeitando o tempo de cada um. São disponibilizados materiais diversos, incluindo recicláveis e os encontrados na natureza (folhas, gravetos, pedras etc). Estes brinquedos são o mais importantes na Casinha e ficam em lugar de destaque, expostos e disponíveis ao uso. As pesquisas realizadas são voltadas para todos os segmentos da comunidade: jovens, crianças, senhores e senhoras, de modo a descobrir os talentos e tradições locais, valorizando a cultura local. A pesquisa acontece por meio de visitas à casa das pessoas, observação das crianças brincando livremente, conversando e ouvindo as histórias. Todo este conteúdo é registrado, utilizando gravador, vídeo, fotos, fichas e anotações. A pesquisa enriquece o acervo da Casinha à medida que os materiais são catalogados e ficam disponíveis à comunidade. O Cantinho dos Sonhos é uma pequena biblioteca que faz parte da Casinha de Cultura e se dedica ao acesso e incentivo à leitura, como também ao registro, produção e divulgação de conhecimento e da vida da comunidade. Os intercâmbios, seminários regionais e ações em rede são realizados por iniciativa das equipes e servem para troca de experiência entre os profissionais envolvidos, representantes das comunidades, além de ser um momento propício ao planejamento em conjunto, o que facilita a divulgação e disseminação dos conteúdos/experiências. Ações itinerantes também são realizadas de modo a alcançar grupos e comunidades onde não há a Casinha de Cultura como um espaço físico. Assim, os acervos e ações da tecnologia são levados a locais abertos ou em outros ambientes como escolas, igrejas, salões comunitários. Eventos que fazem sentido para a comunidade por serem inspirados em algo que é parte da história ou prática local, são realizados e contam com a participação das pessoas no processo de preparação.
Recursos Necessários
Mobília e objetos: Estantes ou prateleiras para receber o acervo; Mesa, armário ou arquivo para os Brincantes organizarem documentos e registros; Mesas, bancos e cadeiras para ler e jogar; Espelho grande para maquiagem e fantasias; Biombo ou camarim de tecido para troca de roupas e fantasias; Cabides e araras (porta cabides) para as fantasias; Almofadas e sacolas de tecido para guardar os livros e materiais; Armário para as ferramentas, que devem estar sempre à disposição para quem quiser construir brinquedos.
Acervo: O acervo deve ser composto de brinquedos e jogos que correspondam à natureza do povo, das pessoas de cada região, por exemplo: brinquedos artesanais encontrados nas feiras e mercados; alguns brinquedos industrializados são importantes; objetos sonoros para as crianças descobrirem os sons, objetos / adereços / maquiagens / fantasias para as atividades de faz de conta e teatro; bolas, petecas e redes para atividades esportivas; jogos de tabuleiro e raciocínio para crianças, jovens e adultos; ferramentas simples para construção de brinquedos; cordas e elástico para pular, materiais para atividades simples de pintar, tecer, bordar e costurar. Livros infanto-juvenis; canções que representam o universo musical significativo do nosso país; gravador para as pesquisas culturais; aparelho de som para ouvir musicas e processar o material das pesquisas; câmera fotográfica.
Resultados Alcançados
Qualitativos: Configuração da Casinha de Cultura como um espaço aberto a toda a comunidade sem distinção de raça, credo ou classe social. Valorização da cultural local, com o resgate de algumas tradições e manifestações em processo de esquecimento, tais como: as Pastorinhas, Folia de Reis, o costume de contar causos e histórias; as rodas de verso e os brinquedos construídos com materiais do local. Valorização do idoso com o reconhecimento da sua importância como portador da tradição, sabedoria e experiência. Aproximação e fortalecimento das relações afetivas entre pais, filhos e comunidade. Formação de um acervo catalogado como resultado das informações culturais e históricas colhidas nas comunidades através de pesquisas realizadas, e disponibilizado a todos para consulta. Crianças e adolescentes acessando diversos títulos literários e criando o hábito de leitura. Rede de Organizações Parceiras permitindo o crescimento, fortalecimento do programa em nível comunitário e regional, por meio de ações conjuntas, articulação política, realização de seminários regionais, interação e integração de outros atores. Momentos de intercâmbio envolvendo as equipes das Casinhas e representantes de comunidades de uma mesma região para discussão conjunta e troca de experiências sobre questões pertinentes à prática do programa. Espaço sendo utilizado para reuniões, planejamento comunitário, além de servir para a realização de ações integradas ao poder público municipal, como Secretarias de Saúde, Educação e Cultura.
Quantitativos: 45 Casinhas de Cultura. 6.924 pessoas beneficiadas (crianças, adolescentes, jovens). Os adultos também participam nos eventos, no brincar com os filhos, nas contações de historias.
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