Mais que ferramentas, as tecnologias
sociais são estratégias de transformação social, valorização cultural e de
desenvolvimento sustentável na Amazônia. Este é o resultado promovido por
soluções simples, de baixo custo e desenvolvidas ou aprimoradas por equipes das
instituições científicas com a participação de comunidades e grupos
vulnerabilizados apresentadas no 2º Encontro de Tecnologia Social da
Amazônia (2º ETS-Amazônia). O evento encerrou nesta sexta-feira (27), no
Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), no bairro Petrópolis, zona
Sul de Manaus.
Cerca de 200 cientistas, professores, desenvolvedores de tecnologia social,
estudantes e representantes governamentais participaram do evento. Múltiplas
atividades foram realizadas, como mesas temáticas, oficinas, apresentação oral
de mais de 70 trabalhos, lançamento de livros, visitas técnicas, além da Feira
de Economia Popular e Solidária e Mostra de Tecnologia Social. Os debates
nas mesas trataram sobre mudança climática, empreendimentos solidários, saberes
tradicionais e estratégias de fomento e desenvolvimento.
Para o diretor do Inpa, o professor Henrique Pereira, o evento reuniu vozes e
instituições comprometidas com o futuro da região e consolidou um movimento
coletivo em defesa de uma ciência transformadora, acessível e socialmente
referenciada. “Encerramos este Encontro com uma convicção renovada: a tecnologia
social é uma estratégia central para o desenvolvimento sustentável da
Amazônia, e não uma alternativa periférica”, destacou Pereira.
O ETS-Amazônia foi organizado pelo Inpa e pela Associação Brasileira de Ensino,
Pesquisa e Extensão em Tecnologia Social (Abepets), em parceria com
quase 15 instituições de ensino e pesquisa do Norte, como Universidade Federal
do Amazonas (Ufam), Instituto Leônidas e Maria Deane (ILMD-Fiocruz Amazônia)
visando se estabelecer como um fórum regional de discussões sobre tecnologia
social da região.
“O Inpa tem mais de 70 anos na Amazônia e vem estabelecendo parcerias com as
comunidades tradicionais, estudando seus sistemas de produção e procurando
encontrar mecanismos que possam fortalecer a economia dessas populações, ao
mesmo tempo, em que se preserva o ambiente do entorno”, destacou a diretora
substituta do Inpa, a pesquisadora Sônia Alfaia.
Experiências transformadoras
As tecnologias sociais oferecem soluções inovadoras, sustentáveis, inclusivas e
são reaplicáveis, atendendo a diferentes necessidades locais no Brasil e na
Amazônia. Algumas geram renda, como a produção de calçados a partir do látex da
seringueira e o manejo do pirarucu, outras resgatam e preservam a identidade
cultural como o dicionário multimídia para revitalização de línguas indígenas.
Há outras que atendem à necessidade de acesso à água potável, a exemplo do
filtro ecológico para tratamento de água potável feito com baldes plásticos com
tampas, ou ainda tecnologia educacional para idosos da Universidade da
Maturidade (UMA/TO).
O dicionário multimídia desenvolvido pelo Museu Goeldi em parceria com povos
originários está ajudando a revitalizar e preservar línguas indígenas. O
recurso digital não precisa de internet para funcionar e combina gravações da
língua (oralidade), imagem, texto e frases de uso, permitindo ensinar e
aprender as línguas na comunidade e fora dela. Sete dicionários de línguas
indígenas já foram desenvolvidos, entre os quais Kanoé e Puruborá.
“Esse dicionário é bom, é muito prático. No começo, a gente não tinha essa
possibilidade e foi um trabalho mais difícil do resgate da língua Puruborá, a
documentação do museu pra nós era recente. Esse é um material que a gente usa
no dia a dia, e através dessa tecnologia consigo ensinar na escola e para as
pessoas que não estão no território, até porque a gente ainda não tem
território demarcado, e ele também dá força na luta pelo nosso território”,
conta o sabedor indígena Mario Oliveira Neto, da Escola Aperoi do povo
Puruborá, no município de Seringueira (RO).
Uma das parceiras do evento é a Fundação Banco do Brasil, que possui 40
anos de trajetória, dos quais há 24 anos fomenta e incentiva a temática
da tecnologia social no País. A Fundação promove a cada dois anos o
Prêmio de Tecnologia Social, no qual identifica, certifica e premia
tecnologias sociais, conta ainda com a Plataforma Transforma que é uma maneira
de catalogar e difundir a tecnologia social.
“Mais recentemente, fizemos uma parceria com a Universidade de Brasília, e
vamos instalar neste ano o laboratório de tecnologia social, o LAB-TS,
para desenvolver e aprimorar tecnologias sociais que representem possíveis
políticas públicas, soluções transformadoras para problemas da nossa
sociedade”, contou a diretora executiva de desenvolvimento social da Fundação
Banco do Brasil, Luciana Bagno.
Tecnologia Social na COP30
Conforme a diretora de Tecnologia Social, Economia Solidária e Tecnologia
Assistiva (DEPTS/MCTI), Sonia Costa, o momento político é favorável ao
fortalecimento da agenda da tecnologia social. Reconheceu ainda o esforço
das três unidades do MCTI na Amazônia (Inpa, Instituto Mamirauá e Museu Goeldi)
que seguraram as questões ligadas às tecnologias sociais na Amazônia nos
últimos anos, com movimentos sociais e instituições parceiras. Em 2024, foi
publicada uma Coletânea contendo 100 experiências de tecnologias sociais
desenvolvidas na Amazônia.
“Estamos partindo de algo reconhecido, como essas 100 tecnologias. Então, vamos
nos preparar para uma grande amostra de tecnologia social para a
COP30 ilustrada por essas tecnologias sociais do livro para termos o espaço
reconhecido, bem-organizado e representado”, adiantou Costa.
Tecnologias sociais impulsionam transformação e desenvolvimento sustentável na Amazônia
2025-06-30 18:58:34
por Rádio Coopnews | Noticias | Redação
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