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Tecnologia social: o saber popular ao alcance de todos

02 de abril de 2019
por Dalva de Oliveira

Com a ajuda de pinos e elásticos o deficiente visual consegue criar imagens na placa perfurada. O método conhecido como Multiplano foi criado pelo professor Rubens Ferronato, do Paraná, e possibilita, por meio do tato, a compreensão de conceitos matemáticos também aos que enxergam, sem que estes necessariamente conheçam a escrita em braille.

Com a técnica, as pessoas podem compreender operações, equações, proporções, funções, sistema linear, gráficos de funções, inequações, funções exponenciais e logarítmicas, trigonometria, geometria plana e espacial, estatística e muitos outros.

Reaplicada em mais de 200 escolas do país, a metodologia foi vencedora do Prêmio Fundação BB de Tecnologia Social em 2003, na categoria Educação. Como premiação naquele ano, a iniciativa foi registrada em vídeo documentário, além de receber investimento social de R$ 50 mil para aperfeiçoamento e expansão.

Em 2018, o professor criador e desenvolvedor da tecnologia social foi selecionado entre os 50 finalistas do “Global Teacher Prize”, prêmio conhecido como “Nobel da Educação”, organizado pela Varkey Foundation, instituição filantrópica com sede em Londres (Inglaterra). Mesmo com os reconhecimentos, ele busca ampliar o alcance da iniciativa. “Desejo produzir o Multiplano nas doze línguas mais faladas no mundo e, ainda, levar a 30 países em dez anos”, disse. 

Tecnologia social cuidando da saúde dos povos

No Amapá é muito comum as famílias recorrerem às receitas caseiras, desenvolvidas a base plantas medicinais para cuidar de doenças. A prática resultou na tecnologia social “Farmácia da Terra”, uma metodologia que nasceu a partir da inquietação de um grupo de pesquisadores da área de fitoterapia do Núcleo de Plantas Medicinais e Produtos Naturais do Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá (IEPA). O trabalho foi baseado nos conhecimentos da tradição local, a partir de espécies amazônicas, buscando manter vivos os conselhos dos antepassados e trazer uma alternativa barata e eficiente para as populações carentes.

 O chá de hortelãzinho é muito utilizado para aliviar as cólicas dos bebês, e para dor de cabeça, a recomendação é que use uma alcoolatura – mistura desenvolvida a base da erva catinga de mulata e arruda, e para os resfriados, o mais comum é o xarope de gengibre com óleo de copaíba. A metodologia Farmácia da Terra foi vencedora, na região Norte, do Prêmio Fundação BB de Tecnologia Social 2003.


Terezinha de Jesus Soares, pesquisadora do IEPA explica que muitas vezes essa alternativa oferece tratamento eficiente para diversas doenças a um custo quase zero, e que o foco principal continua sendo o desenvolvimento econômico de comunidades rurais e tradicionais do Estado, com destaque para o projeto de produção de fitoterápicos e sabonetes por algumas associações comunitárias.

Entre as doenças que podem ser tratadas com fitoterápicos – produtos com fins terapêuticos obtidos das plantas – estão as respiratórias (bronquite, sinusite, amigdalite, faringite, gripes e resfriados), de pele (sarnas, escabioses e pediculoses), gastrointestinais (diarréias, verminoses, gastrite, úlcera péptica, amebíase e giardíase), doenças dos órgãos genitais e infecções urinárias, além de reumatismo.

As Farmácias da Terra estão presentes em oito municípios do estado. Mais de 2 mil pessoas – entre agentes de saúde comunitários (principal público), parteiras, estudantes de nível médio, professores, líderes comunitários e curandeiros – foram treinadas para cuidar de hortas onde são cultivadas as plantas.

“A tecnologia continua fortalecendo os projetos que existem e ajudando as famílias, principalmente as ribeirinhas que vivem isoladas. Nosso objetivo é que a população siga resgatando esses conhecimentos e contribuindo na melhoria da saúde pública”, disse.

Prêmio de Tecnologia Social 2019

Se você tem um projeto interessante como esses, inscreva-se no Prêmio Fundação BB deTecnologia Social 2019. As inscrições estarão abertas até o dia 21 de abril de 2019. Podem participar entidades sem fins lucrativos, como instituições de ensino e de pesquisa, fundações, cooperativas, organizações da sociedade civil e órgãos governamentais de direito público ou privado, legalmente constituídas no Brasil ou nos demais países da América Latina ou do Caribe.

Nesta edição, o Prêmio terá quatro categorias nacionais: "Cidades Sustentáveis e/ou Inovação Digital"; "Educação"; "Geração de Renda" e "Meio Ambiente". O primeiro, segundo e terceiro lugar de cada uma das categorias será premiado com R$ 50 mil, 30 mil e 20 mil respectivamente. Todas as instituições finalistas irão receber um troféu e um vídeo retratando sua iniciativa. Além disso, as tecnologias sociais que promovem a igualdade de gênero e o protagonismo e empoderamento da juventude receberão um bônus de 5% na pontuação total obtida na classificação.

As novidades desta edição são as três premiações especiais: “Mulheres na Agroecologia”, que visa identificar tecnologias sociais que promovam o protagonismo feminino na gestão da produção agroecológica; “Gestão Comunitária e Algodão Agroecológico”, destinada para identificar tecnologias sociais de modelos de gestão/governança de organizações e comunidades na produção do algodão agroecológico e “Primeira Infância”, que busca identificar tecnologias sociais que promovam ações que abordem as dimensões do desenvolvimento infantil (linguagem, cognitivo, motricidade e socioafetividade), o fortalecimento de vínculos familiares e o exercício da parentalidade. Nestas premiações especiais também serão classificadas três finalistas, com as mesmas regras das categorias nacionais. As vencedoras serão conhecidas na premiação, prevista para outubro. Todas as categorias são relacionadas aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS)

Este ano o Prêmio conta com a parceria do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Instituto C&A, Ativos S/A e BB Tecnologia e Serviços, além da cooperação da Unesco no Brasil e apoio da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), Ministério da Cidadania e Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC).

Esta matéria faz parte da série Retrospectiva TS, que apresenta histórias de iniciativas finalistas no Prêmio Fundação BB de Tecnologia Social desde a sua primeira edição, em 2001.

Notícia publicada em 20/03/2019

Link: https://www.fbb.org.br/pt-br/component/k2/conteudo/tecnologia-social-o-saber-popular-ao-alcance-de-todos

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