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Colostro: um produto nobre

07 de maio de 2019
por Dalva de Oliveira


Dra. Mara recebendo medalha da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul pelo trabalho com o colostro


Quando a tecnologia social “Uso da Silagem de Colostro” venceu o Prêmio Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social, em 2007, a médica veterinária e pesquisadora da Emater/RS, Mara Helena Saalfeld, da cidade de Pelotas (RS) já indicava o uso da silagem de colostro como substituto ao leite na alimentação das bezerras leiteiras e mamíferos, mas percebeu que ainda havia muito desperdício e preconceito quanto ao uso do produto in natura, o que já era utilizado no mundo todo, não só como alimento, mas na indústria de medicamentos e suplementos alimentares para atletas.

Para se fazer a silagem, o colostro é colocado em garrafas pet. Quando a garrafa estiver totalmente preenchida é fechada e armazenada em temperatura ambiente. O tempo de armazenamento é bastante longo, em torno de 3 anos. Após o armazenamento, de cada 2 litros de silagem de colostro se faz 4 litros de leite, com a adição de água.

O Prêmio da Fundação BB impulsionou a idealizadora do método a prosseguir com o trabalho de pesquisa em torno do uso do colostro da vaca in natura também na alimentação humana. Em março de 2017, como resultado dos esforços da doutora Mara, a Presidência da República emitiu um decreto, eliminando o artigo que proibia o aproveitamento de colostro para fins de alimentação humana - uma proibição desde 1952, realizada durante o governo Vargas.

Saalfeld explica que em 1998, uma pesquisa já havia comprovado que o colostro - produzido pela vaca nos cinco primeiros dias após o parto - tem mais proteínas, minerais, gorduras e vitaminas do que o leite. O leite normal tem em média 3% de proteína, enquanto o colostro do dia do parto tem 14% de proteína.

A médica explica que o colostro tem as mesmas propriedades do leite, como anticorpos e bactérias probióticas, só que em maiores quantidades. Ele era proibido no Brasil por uma questão técnica, devido ao processo de pasteurização, que exige temperaturas diferentes para o leite e para o colostro, e não pela questão nutricional.

A doutora também afirma que antes do Prêmio, o colostro era considerado invisível para a pesquisa e ensino no Brasil e que após o projeto ser vencedor, tudo mudou. Com o prêmio de R$ 50 mil, a tecnologia pôde ser divulgada em todo o Brasil e no mundo. Além disso, a pesquisadora teve oportunidade de fazer o doutorado e participar de palestras em Portugal e na Alemanha. De lá pra cá, a prática começou a ser ensinada também nas universidades e usada em pesquisas. “O colostro é um alimento de excelente qualidade. Seu uso proporciona aos produtores uma boa lucratividade. Hoje encontramos no mercado iogurtes, queijos, ambrosias e bolachas feitos com o colostro. Agora estamos batalhando para industrializá-lo para o consumo humano, em pó”, disse.

Prêmio de 2019 está com inscrições abertas

Assim como esta metodologia, o seu projeto também pode se tornar uma tecnologia social reconhecida. O Prêmio Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social está com inscrições abertas até 21 de abril. Podem participar da premiação entidades sem fins lucrativos como instituições de ensino e de pesquisa, fundações, cooperativas, organizações da sociedade civil e órgãos governamentais, de direito público ou privado, legalmente constituídas no Brasil e nos demais países da América Latina ou do Caribe.

Nesta edição, o Prêmio terá quatro categorias nacionais: "Cidades Sustentáveis e/ou Inovação Digital”; “Educação”; “Geração de Renda” e “Meio Ambiente”. O primeiro, segundo e terceiro lugar de cada uma das categorias será premiado com R$ 50 mil, 30 mil e 20 mil respectivamente. Todas as instituições finalistas irão receber um troféu e um vídeo retratando sua iniciativa. Além disso, as tecnologias sociais que promovam a igualdade de gênero e o protagonismo e empoderamento da juventude receberão um bônus de 5% na pontuação total obtida na classificação.

Também está aberta uma categoria “Internacional”, destinada a iniciativas da América Latina e do Caribe, onde serão identificadas tecnologias sociais que possam ser reaplicadas no Brasil e que constituam efetivas soluções para questões relativas a “Cidades Sustentáveis e/ou Inovação Digital”; “Educação”, “Geração de Renda” e “Meio Ambiente.” Da mesma forma, nesta categoria, as instituições finalistas receberão um troféu e um vídeo retratando a sua iniciativa.

As novidades desta edição são as três premiações especiais: “Mulheres na Agroecologia”, que visa identificar tecnologias sociais que promovam o protagonismo feminino na gestão da produção agroecológica; “Gestão Comunitária e Algodão Agroecológico”, destinada para identificar tecnologias sociais de modelos de gestão/governança de organizações e comunidades na produção do algodão agroecológico e “Primeira Infância”, que busca identificar tecnologias sociais que promovam ações que abordem as dimensões do desenvolvimento infantil (linguagem, cognitivo, motricidade e socioafetividade), o fortalecimento de vínculos familiares e o exercício da parentalidade. Nestas premiações especiais também serão classificadas três finalistas, com as mesmas regras das categorias nacionais. As vencedoras serão conhecidas na premiação, prevista para outubro. Todas as categorias são relacionadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

Nesta edição, o concurso tem a parceria do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Instituto C&A, Ativos S/A e BB Tecnologia e Serviços, além da cooperação da Unesco no Brasil e apoio da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), Ministério da Cidadania e Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC).

O regulamento completo pode ser conferido aqui fbb.org.br/premio

Matéria publicada em 05/04/2019

Link: https://bit.ly/2HZDRQP

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